terça-feira, 30 de agosto de 2016

DIAGNÓSTICO DA GESTAÇÃO EM ÉGUAS


São métodos de diagnóstico de prenhez em equinos:


· Palpação retal
· Dosagem hormonal
· US


Para a escolha do método deve-se levar em conta a relação custo/benefício, a segurança para mãe e feto, praticidade na realização do exame, precocidade no diagnóstico para o melhor manejo reprodutivo.

PALPAÇÃO RETAL
A anatomia uterina da égua tem suas particularidades: a cérvix é lisa, possui uma curvatura maior (quando comparado a útero de vacas), os cornos são distantes, sendo palpados lateralmente e para cima. Os ovários são do tamanho de ovos de galinha (ou ovos de pata quando próximo da ovulação). Atenção para não confundir ovários com síbalas, pois têm formato e tamanho parecidos. No 3º mês de gestação é difícil palpar o feto.

DOSAGEM HORMONAL
A dosagem de P4 não é fidedigno pois é uma espécie que apresenta CL persistente, logo pode dar falso-positivo. Pode-se ainda medir estradiol.

ULTRASSONOGRAFIA
Após 10dias
É possível visualizar a vesícula embrionária (VE), que é anecoica com pontos hiperecoicos em polos opostos, formando a imagem chamada “reflexão especular”. A VE tem 4 a 5 mm de diâmetro.
*Assemelha-se a um cisto endometrial, porém a VE muda de lugar em poucas horas.
11 a 14 dias
Há uma intensa mobilidade embrionária. No 14º dia VE tem 15mm de diâmetro.
Após o 14º dia é possível um diagnóstico mais seguro. A taxa de crescimento da VE é 3mm/dia.
16 dias
VE = 20-25mm de diâmetro.
16 a 17 dias
Imobilidade embrionária. O embrião escolhe o local de implantação, que na maioria das vezes é na bifurcação dos cornos uterinos. Até o 17º dia a VE tem formato ovoide.
18 a 20 dias
A VE tem formato irregular.
21 dias
O embrião é visível dentro da VE, próximo ao polo inferior.
24 dias
Já há batimento cardíaco.
23 a 40 dias
Fase de ascensão. Nesse período o embrião migra do polo inferior ao polo superior da VE.
No 30º dia o embrião está no centro da VE.
36 dias
Formação dos cálices endometriais, com produção de eCG.
41 a 60 dias
Fase de descência. Nesse período o embrião desce para o polo inferior da VE. No 45º dia está no centro da VE. No 45º a coluna vertebral tem aprox. 25mm de comprimento. No 60º dia mede 40mm.
65 dias
Não é mais possível visualizar o feto inteiro na mesma imagem. É possível a sexagem pela localização do tubérculo genital (TG): se próximo ao umbigo é macho, próximo à cauda é fêmea.
Até 80º dia
Ocorre reabsorção fetal em caso de aborto.
Após 93 dias
É possível diferenciar a parede da bexiga e a parede uterina, pois aquela é lisa.
4 a 5 meses
É possível a sexagem pela gônada do feto. Mas é complicado, visto q o feto tem que estar em posição adequada.

SITUAÇÕES ESPECIAIS
Se a égua perder o embrião até 30º dia, 21 dias após ela entra novamente no cio.
Se perder após 36º dia, há produção de eCG pelos cálices endometriais, mas após 70 dias até 120-150 dias os cálices endometriais começam a degenerar. Desse modo, a dosagem de eCG continua dando positivo, mas a égua ão está mais gestante.
Há o caso de a égua entrar no cio estando gestante, em vários períodos da gravidez. Isso pode ocorrer entre 40 e 60 dias de gestação, quando os cálices endometriais estão produzindo eCG. Esse hormônio tem função de LH e FSH. Pela função FSH, acaba por aumentar a produção de estrógeno, levando a égua ao cio. A égua pode entrar no cio por volta do 5º e 6º meses de gestação, pois nesse período a placenta assume a produção de P4 e durante essa transição pode ocorrer desequilíbrio hormonal, com pico d eFSH e, consequentemente, estrógeno, levando ao cio. Também há a teoria de que se o feto é fêmea, seus hormônios influenciam a mãe, que entra no cio ainda gestante.




DIAGNÓSTICO DA GESTAÇÃO EM OVINOS E CAPRINNOS


São métodos de diagnóstico de prenhez em caprinos e ovinos:


· Presuntivo
· Palpação abdominal
· Radiografia
· Dosagem hormonal
· Doppler (aparelho sonoro)
· US


O diagnóstico presuntivo é dado pelo índice de não retorno ao estro, porém não permite segurança nos resultados até que a caracterização externa da prenhez se torne evidente. O não retorno ao estro não deve fundamentar um diagnóstico, pois muitas fêmeas caprinas e ovinas manifestam sintomas de estro ao início da gestação. Em casos de CL persistente ou folículo luteinizado, resulta em um falso-positivo. Pode ser falso negativo no caso de fêmeas gestantes que entram no cio. A distensão abdominal pode ser decorrente de estados patológicos, como verminose ou ascite. O relaxamento dos ligamentos sacroilíaco e isquiático ocorrem comumente em animais mais velhos e levaria a um diagnóstico falso positivo.
Após o 90º dia de gestação, o útero gestante e/ou o(s) feto(s) podem ser detectados pela palpação do abdome. Esse exame é realizado colocando-se as mãos em cada lado do abdome para pressioná-lo e levantá-lo. A constatação de movimento do feto oferece maior confiança ao diagnóstico.
A radiografia pode ser outra ferramenta para detectar a prenhez e o número de fetos com alta acurácia a partir do terceiro mês de gestação, quando a visualização do esqueleto fetal é possível. Embora esse método de abordagem permita 100% de acurácia no diagnóstico de prenhez e quantificação fetal, ele não apresenta praticidade devido à dificuldade no transporte dos animais ao centro radiológico ou no deslocamento do aparelho de raios-X até as propriedades.
A dosagem hormonal de P4 no sangue ou leite é detetável por radio-imuno ensaio (RIE) ou ELISA, a pós 16-19 dias em ovinos, 19-22d em caprinos. A dosagem de sulfato de estrona, substância produzida pela placenta, pode ser realizada com 30 a 50 dias de gestação. Outras substâncias que podem ser dosadas são PAG (proteína associada à gestação) após 22 dias e HLP (hormônio lactogênico placentário) após 48 dias de gestação. Independente da substância a ser dosada, é um método com baixa relação custo/benefício.
O doppler permite a detecção de pulso fetal. Quando realizado entre 40-80 dias de gestação oferece 60% de acurácia, e após 80 dias oferece 100% de acurácia.
A ultrassonografia pode ser transretal (até 90 dias) ou transabdominal (após 90 dias de gestação, quando o feto desce para a cavidade abdominal). As principais imagens que caracterizam a fase inicial da gestação são: a presença de líquido intra-uterino; visualização da vesícula embrionária; detecção do(s) embrião(s) e batimentos cardíacos fetais; identificação da membrana amniótica e placentomas; diferenciação da cabeça e tronco fetal; identificação dos botões germinativo dos membros e formação esquelética; movimentos embrionário/fetal; delimitação do cordão umbilical e visualização do globo ocular. A ultrassonografia permite estimar a idade gestacional por mensurações de dimensões lineares como diâmetro biparietal; diâmetro abdominal; diâmetro do tórax e comprimento do fêmur.  
(Fonte: http://wm.agripoint.com.br/imagens/banco/19831.gif)


DIAGNÓSTICO DA GESTAÇÃO EM BOVINOS

objetivo do diagnóstico é monitorar todo o processo reprodutivo, adequar as necessidades nutricionais de cada período, descartar ventres improdutivos, revelar estados de infertilidade ou subfertilidade no rebanho.
Obs.: o diagnóstico positivo só deve ser dado quando houver certeza, pois são elevados os custos de apartação de animal de produção leiteira.

MÉTODO DIAGNÓSTICO
Deve-se escolher aquele que melhor atenda aos seguintes requisitos:
· Ser inócuo e seguro para mãe e feto,
· Ter segurança diagnóstica próximo a 100%,
· Ser eficaz e rápido, principalmente quando se faz diagnóstico em rebanho,
· Permitir o diagnóstico precoce,
· Permitir diferenciar gestação simples ou múltipla,
· Ser simples e de baixo custo (ter boa relação custo/benefício)
Dentre os métodos de diagnóstico, tem-se:
· Palpação retal, desde que após 40dias de gestação;
· US transretal, após 28-35 dias de gestação, com a vantagem de poder avaliar a viabilidade fetal;
· Dosagem hormonal (P4), porém pode dar falso positivo em animais com CL persistente, além de ser um método de custo elevado.
Na palpação retal (PR) é possível detectar o aumento uterino. O período gestacional pode ser dividido em três fases:
· 1/3 inicial (de 0 a 100 dias) → útero em posição pélvica, porém em raças de grande porte (ex: holandesa), o feto desce para posição abdominal antes do 100º dia;
· 1/3 médio (de 4 a 6 meses) → útero em posição abdominal, dificultando a palpação do feto;
· 1/3 final (de 7 a 9 meses) → verifica-se a subida do feto e seu posicionamento no canal de parto a partir do 8º mês.


Alterações observadas através de palpação retal no útero de vacas gestantes
Dias
Feto
Placenta
Frêmito (a.uterina)
80-100
+
+
-
100-120
Flutuação (ver figura anterior)
+
+
120-150
Flutuação (ver figura anterior)
+
+
150-180
Piso abdominal (fase de descida)
(ver figura anterior)
+
+
180-240
Ascensão
+
+
240-285
Cavidade pélvica
+
+

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS NOS DIFERENTES ESTÁGIOS DE GESTAÇÃO
28 dias
É caracterizado por apresentar um espessamento da vesícula embrionária no corno uterino gestante; geralmente só é viável em novilhas.
32 dias
Realiza-se o beliscamento (deslizamento do corio-alantóide sobre a parede do útero) demonstrando a presença de paredes duplas. Esse procedimento deve ser realizado no corno oposto ao do corpo lúteo, onde se encontra o embrião, para que este não seja lesionado. Nesse período a placenta já se expandiu pelos dois cornos.
45 dias
O feto é do tamanho de bola de pingue-pongue. A assimetria é evidente e denomina-se pequena bolsa.
60 dias
Feto do tamanho de bola de golfe.
90 dias
Feto do tamanho de um gato recém-nascido. O o útero pode ser contornado, em toda sua extensão, com a mão, e chama-se grande bolsa.
120 dias
O útero toma forma de balão e não se consegue passar a mão por debaixo dele; encontra-se distendido e tenso. Há a presença do frêmito da artéria uterina.
5 meses
A cérvix está pesada e afunilada para baixo e essa fase é denominada fase de descida.
6 meses
O feto está na base do abdome.
7 meses
O feto começa a voltar para a cavidade pélvica, palpa-se a cabeça do feto, denomina-se fase de subida ou ascensão.
8 meses
Geralmente, o feto está posicionado para o parto.

ULTRASSONOGRAFIA
Utiliza-se sonda transretal (cabeçote linear).
Para fazer a sexagem, observa-se o tubérculo genital: mais próximo à cauda indica que é fêmea, mais próximo ao umbigo indica que é macho.

FISIOLOGIA DA GESTAÇÃO


A gestação é uma condição fisiológica especial, mas não uma doença.
CONCEITOS BÁSICOS
·       Quanto ao número de partos, as fêmeas podem ser:
A Nulípara = nunca pariu
A Primípara = 1ª gestação ou 1º parto
A Plurípura = vários partos ou gestações
·       Quanto ao número de filhotes por gestação, as fêmeas podem ser:
A Unípara = 1 filhote/gestação, tem útero bipartido (cornos pequenos em relação ao corpo uterino)
A Multípara = vários filhotes/gestação, tem útero bicornual (cornos grandes em relação ao corpo uterino)

DURAÇÃO DA GESTAÇÃO
A duração da gestação varia com a espécie:
Espécie
Duração*
Equino
330-345d
11m
Bubalino
298-317d
10m
Bovino
270-290d
9m
Caprino
145-151d
5m
Ovino
144-152d
5m
Suíno
112-115d
3m3s3d
Canino
56-59d
2m
Felino
64-68d
2m
*Em bovinos, ± 10 dias; nas demais espécies considerar ± 5 dias.
Os fatores que influenciam o tempo de gestação podem ser maternos, genéticos, fetais, ambientais (nas espécies fotoperíodo-dependentes), outros (ex: estresse pode encurtar ou prolongar a gestação). Cada fêmea tem uma característica e a duração da gestação é genética. Em fêmeas multíparas, quanto mais fetos, mais curta a gestação em virtude da quantidade de cortisol. Gênero e tamanho dos fetos também influenciam a duração da gravidez, onde fetos machos prolongam a gravidez.

IMUNOLOGIA DA GESTAÇÃO
Imunologia da gestação é uma particularidade, visto que agora o organismo materno abriga uma estrutura estranha, o concepto, que possui material genético tanto da mãe, como do pai. O concepto é reconhecido pelo sistema imune como um "parasita", sendo um parasita perfeito, pois além de aproveitar nutrientes da mãe, ele também é uma prioridade dentro do organismo materno. Então, como o embrião contendo antígenos consegue sobreviver em um organismo imunocompetente? Para isso deve haver um bloqueio à rejeição imunológica, através de:
·       Redução de antígenos do complexo principal de histocompatibilidade classes I e II (MHC I e II), de modo que o concepto fica "escondido" do sistema imune da mãe;
·       Ação sobre citocinas maternas, modificando o balanço da distribuição de linfócitos T-helper (Th), reduzindo Th1, que são lesivos à gestação, e aumentando Th2;
·       Moléculas, secretadas pelo tecido materno e trofoblasto, com função de inibir a replicação de linfócitos e atividade celular dentro do útero; dentre as moléculas liberadas pela placenta tem-se:
A Progesterona (P4), que é imunossupressora, porém se por um lado permite a manutenção da gestação (protegendo o concepto do ataque do sistema imune da mãe), por outro facilita infecções;
A Prostaglandina E2 (PGE2), também imunossupressora;
A Interferon tao (INFt), importante em ruminantes, funciona como mecanismo protetor do embrião ao ligar-se às células embrionárias tornando-as refratárias aos anticorpos (AC) maternos;
A Proteína associada à gestação (PAG) que se liga aos AC maternos impedindo que estes se liguem ao embrião. (Obs.: não há PAG em cadelas)

ENDOCRINOLOGIA DA GESTAÇÃO
Progesterona
Em qualquer espécie (dentre os mamíferos), a gestação é dominada e mantida pela P4, que pode ser fornecida pelo corpo lúteo (CL) ou pela placenta, de acordo com cada espécie. A P4 produz uma série de alterações:
·       Suprime o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, interrompendo o ciclo estral;
·       Imunossupressão uterina;
·       Suprime a contratilidade uterina;
·       Estimula glândulas endometriais, para produção de leite uterino que nutre o embrião antes da formação da placenta;
·       Promove hiperplasia (Ûnúmero de células) e hipertrofia (Û tamanho) de todas as camadas do útero;
·       Promove desvios metabólicos e circulatórios de modo que o útero seja prioridade do organismo;
·       É anti-insulinêmico, já que o principal nutriente usado pelo feto é a glicose. Obs.: por ser anti-insulinêmico, não usar medicação P4 em fêmeas diabéticas;
·       Promove hipertrofia cardíaca, para garantir o aumento da volemia (aprox. 30%). Obs.: o aumento da volemia é apenas aumento de líquido e não de células, logo o hematócrito da gestante é baixo;
·       Desenvolvimento do epitélio mamário no final da gestação, para que haja produção de colostro (porém, a produção de colostro não é dada pela P4).
*Obs: Gatas a placenta após 42ºd; Éguas após 7º mês; Ovelhas após 70ºd (mas o CL pode permanecer).
Estrógenos
Estrógenos são um grupo de substâncias, onde o 17b-estradiol é o principal estrógeno da fêmea não gestante, e estrona é o principal estrógeno da fêmea gestante, bem como o estradiol. A estrona é produzida pela unidade feto-placentária, ou seja, pela porção trofoblástica do embrião e placenta. Em suínos e equinos, esse hormônio participa do reconhecimento materno. O estradiol é liberado para desencadear o parto.
Os estrógenos participam da implantação desencadeando uma reação inflamatória no sítio de implantação, escavando o endométrio e dando espaço para a implantação. Esses hormônios também participam da formação dos ductos da glândula mamária, enquanto que a P4 forma os alvéolos mamários e a prolactina age na liberação do leite.

Prolactina
Esse hormônio aumenta os receptores de LH no CL, bem como a absorção de colesterol para a formação de estrógenos. Logo, atua na manutenção do CL e da gestação.
 (*Cadelas)
Relaxina (relaxina gestacional ≠ relaxina parto)
É produzida pelo CL, exceto nos carnívoros que é produzida pela placenta. Nos suínos é produzida em grande quantidade, pois o útero é grande. Age em sinergismo com a P4 para manter o relaxamento uterino (quiescência uterina). Nos carnívoros serve como diagnóstico de gestação, pois só há relaxina quando há placenta.
Lactogênio placentário
É produzido exclusivamente por primatas e ruminantes. Tem constituição bioquímica semelhante ao GH (crescimento fetal) e à Prolactina (desenvolvimento da glândula mamária e produção de colostro)
Gonadotrofina coriônica equina (eCG)
Responsável pela manutenção de CL acessórios.
Gonadotrofina coriônica humana (hCG)
Ocorre em todos os primatas. É produzida pela placenta. É bioquimicamente análoga ao LH, logo sua principal função é a manutenção de CL.
Obs.: LH é necessário para manter CL (exceto em cadelas e gatas). Os picos de LH também são necessários para preparar os futuros folículos ovulatórios.

ADAPTAÇÃO MATERNA
A P4 promove adaptação do organismo materno para manter o feto através de:
·           Manutenção do balando hidroeletrolítico, apesar do aumento de volemia;
·           Modificações metabólicas, regulando níveis de nutrientes para o feto;
·           Modificações hemodinâmicas para suprir o útero e as glândulas mamárias (no final da gestação);

·           Modificações nos órgãos reprodutivos, aumentando o tamanho e formando tampão na cérvix (protegendo contra infecções).