1. INTRODUÇÃO
O Brasil é um país com grande
capacidade de produção de derivados de origem animal, possui uma grande extensão
territorial, alta incidência solar e períodos de chuvas relativamente
constantes nas diversas regiões que proporcionam ao setor agropecuário, alternativas
capazes de driblar falta de alimentos para criação de animais nos períodos de
estiagem. A produção de forragem e sua
otimização para a alimentação do rebanho, é uma realidade que tem sido recorrente
e importante, ao levar em consideração a estacionalidade dessa produção. Grande parte dos pecuaristas utiliza o método
extensivo de criação, porém, sofrem sérios prejuízos com períodos de estiagem e
o fenômeno da safra e entressafra que eleva o valor da compra do alimento nesse
período, encarecendo o produto final, perdendo então sua competitividade de
mercado (EVANGELISTA, 2004).
Com o intuito de minimizar esses
problemas e, sobretudo fornecer aos animais alimentos durante esse período
seco, desenvolveram-se técnicas de estocagem e conservação de forragens. Esse
método consiste basicamente em realizar cortes do volumoso na época em que há
uma grande disponibilidade de alimento, geralmente na época das chuvas, e
armazená-los através da técnica de fenação ou ensilagem, para atravessar o
período seco ou de estiagem (CASTRO, 2002).
A maioria das forragens pode passar
pelo processo de ensilagem sem perder suas composições nutritivas, porém, algumas
apresentam características ideais para serem utilizadas nesse processo,
enquanto que aquelas forragens que possuem teor de matéria seca inferior a 21%
e carboidratos solúveis inferiores a 2,2% pode concorrer à perda do alimento
processado, haja vista que a fermentação, o apodrecimento do material,
desenvolvimento de fungos, podem colocar em risco a qualidade e o valor
nutritivo do feno e a integridade do mesmo. (PEREIRA & REIS, 2001).
2. FENAÇÃO
Sendo considerado um dos melhores
recursos para alimentação dos animais em períodos de estiagem e produto de
escolha para os pecuaristas que desejam manter a produção de leite quanto de
carne em períodos onde a oferta de alimento é escassa e pela facilidade do
manejo. Os animais domésticos (Equinos, bovinos, ovinos, caprinos e bubalinos)
particularmente apreciam o alimento, principalmente se este apresentar uma boa
qualidade (ANDRADE, 1999).
O nordeste brasileiro assim como
diversas regiões do Brasil, apresentam grande potencial para a produção de feno
ao considerar a incidência solar, alta temperatura e baixa umidade relativa dor
ar, (exceção feita às regiões litorâneas, Amazônia e também propriedades
próximas às grandes barragens ou reservatórios de água, que possui alta umidade
Relativa do ar (UR) que pode prejudicar a produção de feno), que constitui
alternativas recomendáveis e que pode ser associada a programas de manejo de
pastagens visando estocar o excedente de pasto produzido no período das chuvas
(PEREIRA & REIS, 2001).
Para manter o bom desenvolvimento
dos animais no período seco fornecendo-lhe alimentos desidratados, como o feno,
é indispensável que este seja de boa qualidade, porém, sabe-se que as pastagens
disponíveis para essa técnica de armazenamento não contém em proporções ideais dos
nutrientes necessários e essenciais capazes de suprir todos os requisitos
nutricionais dos animais. Desta maneira é indispensável que o planejamento da
fenação esteja embasado, principalmente, na qualidade da forragem que se deseja
aplicar à técnica de fenação, esta, necessariamente precisa ter um alto valor
nutritivo no período de chuvas/verão para posteriormente os animais usufruírem
deste recurso alimentício durante o período seco que possui menor
disponibilidade de forragens e consumir um feno de valor nutritivo equiparável
à forragem de origem (EVANGELISTA et
al, 2004).
Por ser uma técnica versátil, a
fenação ou conservação de forragens na forma de feno, tem se destacado por
apresentar diversas vantagens, dentre as quais as pequenas alterações no seu
valor nutritivo e por existir uma diversificada quantidade de espécies de
forrageiras que podem ser utilizadas para esse princípio. Essa técnica pode ser
utilizada por qualquer produtor e pode ser efetuada em grande ou pequena
escala, dependendo da capacidade de produção da forrageira no período de chuvas
e de seu armazenamento, pode ser fornecido aos animais de forma mecanizada ou
não, dependendo da necessidade de cada propriedade. O manejo correto das pastagens permite
aproveitar os períodos em que as forrageiras estão em crescimento acelerado e
realizar a fenação. As forragens indicadas para esse processo são as gramíneas que
possuem uma produtividade relativamente elevada, alta qualidade nutritiva, e
por apresentar características como área foliar grande, bem como maior número
de folhas por planta e colmos finos que possibilita uma secagem uniforme. Devem
apresentar resistência aos cortes, manejo facilitado para sua colheita e
plantação. As espécies mais utilizadas são representadas pelo, Tifton,
“coast-cross”, Gramão e também a área foliar da mandioca tem sido amplamente
empregada na produção de feno entre outras.
O princípio básico desta técnica é a
conservação do valor nutritivo da forragem e também a sua palatabilidade,
através da interferência na atividade respiratória, por meio da rápida
desidratação da forragem e dos micro-organismos que ali residem. A secagem e o
armazenamento associada às condições climáticas são fatores que influenciam
diretamente na qualidade do feno produzido (ANDRADE, 1999).
Cavalcante (2004), elabora algumas
regras básicas para realizar a fenação, alguns passos de suma importância que
vão desde a escolha da espécie até o seu armazenamento, que influencia na
qualidade do produto. Segundo a autora a escolha da espécie, deve estar
relacionada à sua produtividade, qualidade e quantidade de nutrientes da
planta, sua resistência aos cortes mecânicos ou manuais. Cita ainda o preparo do
terreno para produção do feno, que se recomenda a destinação de uma determinada
área somente para a produção do feno, ou ainda ao final das chuvas fazer cortes
daquelas forragens que apresentam excedentes com o auxílio de roçadeiras.
O ponto de corte sem dúvida é um
requisito importante para manter a planta com vida, e conhecer a altura dos
cortes de cada espécie pode evitar desperdício da forrageira que poderia ser
colhida e também mantê-las vivas. Os capins de crescimento prostrado como
Brachiaria, Cynodon, Digitaria, podem receber cortes a uma altura de 10 a 15
cm, plantas de crescimento ereto como Avena, Hyparrhenia, Panicum essa altura
do corte varia em torno de 20 a 30 cm. As leguminosas, como a alfafa, utiliza-se
8 a 10 cm do nível do solo, visto que o segredo do corte dessa leguminosa é
preservar a coroa desta planta (REIS, 2001).
Recomenda-se a realização dos cortes
pela manhã, após a secagem do orvalho, para que a forragem murche o mais rápido
possível, e perca seu teor de umidade em um menor período de tempo. Há diversos
mecanismos para realização do corte, pode ser de forma manual ou mecânica, a
forma manual é recomendada desde que a quantidade de feno seja pequena, e
poderá ser realizado com roçadeira costal motorizada, alfanje, ou
motossegadeira manual. A forma mecânica de fenação é indicada para produção em
quantidades grandes de feno, para isso usa-se a segadeira que realiza o corte
da forrageira e o espalhar. A enleiragem é geralmente feita com ancinho. O
processo de secagem também pode ser realizado de duas formas, a artesanal e a
mecanizada, as forragens quando cortadas apresentam um teor de umidade de 75 a
85% que ao final de todo o processo esse índice deve diminuir para níveis
inferiores a 20%. A uniformização da secagem e aceleração do processo pode ser
realizada com a viragem da forragem cortada pelo menos duas vezes ao dia, o
método artesanal utilizado para este processo é realizado com o auxílio de um
garfo ou alguma ferramenta semelhante que produza o mesmo resultado.
A forma mecanizada de secagem, o
ancinho é utilizado na viragem da forragem, enleira-se a forragem que apresenta
baixa umidade, e no dia seguinte após a evaporação do orvalho novamente realiza
a viragem dessas leiras, tendo o cuidado de mantê-las sempre frouxas para
permitir a circulação de ar em seu interior, e consequentemente melhor perda de
umidade.
Considera-se que o feno está no seu
ponto ideal quando não há mais umidade nos entrenós dos caules das forragens.
Alguns testes podem ser realizados apertando essas regiões dos entrenós e
torcendo uma porção de forragem, e caso haja surgimento de água, recomenda-se
secar por um período em que, após a realização novamente desse teste, não saia
água do feno. Pode ocorrer de a forragem passar do ponto de feno ideal, e
tornar-se quebradiça, isso ocorre pela secagem em excesso, se isto ocorrer o
feno produzido terá uma qualidade inferior ao esperado. O armazenamento deve
ser feito em local seco e fresco, sem incidência direta do sol, caso contrário
poderá ocorrer perda do valor nutritivo, pode ser armazenado em fardos
produzidos mecanicamente, através de equipamentos específicos, em sacos, ou
realizar o enfardamento através de uma prensa artesanal que obtêm excelentes
resultados. Ao final desse processo, o feno precisa apresentar um aspecto
esverdeado, livres de fungos e odor agradável (ANDRADE, 1999).
3. ENSILAGEM
Assim como a fenação, a ensilagem é
um processo de conservação de forragens que visa ao final do processo a
preservação das características nutritivas da planta utilizada, minimizando as
perdas desses nutrientes até o consumo final desse alimento. A conversão dos carboidratos solúveis
em ácidos orgânicos através da ação dos microrganismos láticos é o ponto básico
dessa técnica. Portanto, para que isso ocorra de forma eficiente, é necessário
criar um ambiente anaeróbico que seja capaz de otimizar essa conversão,
mantendo níveis de pH dentro dos limites necessários para produção da silagem.
É importante tomar conhecimento que na forragem fresca cerca de 75 a 90% do
nitrogênio total encontra-se na forma de proteína, que constitui os peptídeos,
amidas, aminoácidos livres, clorofila e nucleotídeos, esse fato determina que
aproximadamente 40 a 60% do nitrogênio proteico seja solubilizado em compostos
nitrogenados não proteicos por intermédio de uma proteólise intensiva que
ocorre durante a ensilagem. A redução do pH e o aumento do conteúdo de MS tem
efeito direto na extensão da proteólise sofrida pela forragem, sendo importante a diminuição do pH de forma
rápida, principalmente em forragens que possui teores altos de proteínas, como
exemplo a alfafa, cuja enzimas proteolíticas passam a ser inibidas assim que o
pH tenha uma redução de 4,5 a 4,0. (PEREIRA, REIS, 2001)
A fermentação secundária, poder
tampão de algumas forragens, teor de matéria seca e carboidratos solúveis
inferiores a 21 e 2,2% respectivamente, são fatores limitantes na produção da
silagem e que necessariamente precisam da utilização de recursos capazes de
modificar essa situação. A elaboração de uma silagem pode estar pautada em alguns
cuidados capazes de fornecer ao produtor subsídios e conhecimento suficiente
para produzir uma trincheira, um silo cincho, silo vertical, silo de superfície
etc. com qualidade e armazená-la por muito tempo.
Dentre esses cuidados destaca-se o
planejamento de todas as etapas que precisam ser seguidas até o final do
processo. A escolha da forrageira que esteja adaptada na região, obedecendo as
recomendações técnicas para sua produção; o ponto de colheita da forragem
utilizada, visando obter e armazenar a planta quando esta apresentar teores de
matéria seca (MS) dentro dos padrões estabelecidos para a forragem; o
enchimento e a compactação da silagem na trincheira, deve ser eficiente e o
mais breve possível, visto que rapidamente a planta entra em processo de
anaerobiose e fermentação levando a forragem a consumir e perder os nutrientes
que se deseja armazenar; as superfícies expostas precisam ser vedadas com a
utilização de material infiltrante, como plástico ou lona, permitindo a formação
de um ambiente anaeróbico; caso seja necessário a utilização de aditivos para baixar
o pH ou estimular o crescimento de bactérias anaeróbicas, fazê-lo racionalmente
de acordo com suas recomendações evitando desperdício; e por fim, promover
utilização da silagem, de forma eficiente e constante, retirando todas as vezes
que aberto, camadas de no mínimo 15cm de silagem, que poderá evitar a
fermentação e formação de locais com bolores, ou fungos (LIMA; MACIEL, 2004);
(RODRIGUES, 2011).
Diversas gramíneas podem ser
utilizadas para a produção de silagem, sendo o milho, sorgo, cana de açúcar, as
mais utilizadas. A vantagem do milho e do sorgo é sua grande adaptabilidade em
diversos tipos de ambientes, alto teor de nutrientes, e a dispensa na
utilização de aditivos ou pré-murchamento.
A alta produção de matéria seca por
hectares e capacidade de fornecer material energético para os animais, a
cana-de-açúcar ocupa lugar de escolha da forragem para produção de silagem.
Além destas, outras plantas são amplamente utilizadas como, Milheto, Girassol, Raiz
e parte aérea da mandioca, Capim-elefante, Capins tropicais (Mombaça, Tanzânia,
Marandu, entre outros).
A preparação para o processo de
ensilagem começa quando a forragem apresenta início de floração, realizada a
colheita deste material, esta é triturada em fragmentos de 2 a 5 cm e colocada
na trincheira, no silo cincho, silo vertical, silo de superfície, etc. sofrendo
compactações em camadas de 20 a 25 cm, para retirada do ar. Esse processo
poderá ser feito no local onde será ensilado ou no campo e posteriormente
transportado ao local de seu armazenamento (LIMA; MACIEL, 2004). A compactação
é o ponto chave para o sucesso da silagem, cerca de cinco pessoas, dependendo
da extensão da trincheira ou do cincho, precisa caminhar sobre esses fragmentos
de forragem realizando a sua compactação. Em grandes trincheiras, esse processo
pode ser realizado com as rodas do trator utilizado pra espalhar a forragem, é
importante ressaltar que o desenho do silo em forma de trincheira, sendo ela
escavada ou não, deve possuir uma declividade no fundo, que facilite o
escoamento do excesso de água da forragem para fora da trincheira; as paredes deve
ter uma leve inclinação para fora, com um aspecto de “V” ou oblíqua.
O cuidado com as paredes inclinadas
proporciona uma melhor compactação nas laterais do silo, evitando que a
forragem fique em contato com o ar ou apresentem bolsas de ar em seu interior e
entre em processo de fermentação e venha desenvolver fungos nesses locais, ao
término da compactação, é recomendado que a porção superior da silagem de
trincheira tenha certo abaulamento da massa ensilada (NUSSIO, MANZANO, 1999).
4. REFERÊNCIAS:
ANDRADE,
J.B. Produção de feno. Nova
Odessa: Instituto de Zootecnia, 1999. 34p (Boletim Técnico, 44).
EVANGELISTA, A. R. et al. Produção de silagem de capim-marandu (Brachiaria brizantha
Stapf cv. Marandu)
com e sem emurchecimento. Ciênc.
agrotec. [online]. 2004, vol.28, n.2, pp. 443-449. ISSN 1413-7054.
CASTRO,
F. G. F. Uso do pré-emurchecimento,
inoculante bacteriano-enzimático ou ácido propiônico na produção de silagem de Tifton 85 (Cynodon sp.). 2002. 136 f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, 2002.
CAVALCANTE,
A. C. Feno de Gramíneas: Processo de
Produção Passo a Passo. 2004, Disponível em: <http://www.nordesterural.com.br/nordesterural/matler.asp?newsId=517>.
Acesso em: 19/02/2014
LIMA,
G. F. da C.; AGUIAR, E. M. de.; MACIEL, F. C. et al. Secador solar – A fábrica de feno para a agricultura
familiar. In: Armazenamento de forragens para agricultura familiar. Natal: Empresa
de Pesquisa Agropecuária d o Rio Grande do Norte, 2004, p.9-13.
NUSSIO,
L. G.; MANZANO, R. P. Silagem de milho. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE BOVINOS:
ALIMENTAÇÃO SUPLEMENTAR, Anais...
Piracicaba: FEALQ, 1999. p. 27–46.
PEREIRA,
J. R. A.; REIS, R. A. Produção e utilização de forragem pré-secada. In:
SIMPÓSIO DE FORRAGICULTURA E PASTAGENS. TEMAS EM EVIDÊNCIA, 2., 2001,
Lavras. Anais... Lavras: UFLA, 2001. p. 235-254.
REIS,
R. A., MOREIRA, A. L., PEDREIRA, M. S. Técnicas para produção e conservação de
fenos de forrageiras de alta qualidade. In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO E
UTILIZAÇÃO DE FORRAGENS CONSERVADAS. Anais...
Maringá: UEM/CCA/DZO, 2001. 319P.
RODRIGUES,
C. R, et al; Forragicultura: Tecnologia
de produção. In: 5º DIA DE CAMPO
DO GRUPO DE
ESTUDO E PESQUISA
FORRAGICULTURA E PASTAGENS
NO MARANHÃO; Anais... Chapadinha:
SEBRAE, 2011. 49p.
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