1.
Brucelose Canina
CONCEITUAÇÃO:
a) Características da doença;
A brucelose
canina é uma doença bacteriana causada pela Brucella canis, um cocobacilo gram negativo aeróbico. Este
agente causa uma bacteremia de extensa duração, desenvolvendo algumas
alterações reprodutivas. A mais freqüente manifestação da doença nas fêmeas é a
falha reprodutiva ou o aborto entre o 45°-55° dias de gestação. No macho, está
associada à epididimite, dermatite do escroto, atrofia testicular e
infertilidade.
b) distribuição geográfica e prevalência;
A infecção
de cães por Brucella canis
tem sido encontrada em praticamente todos os países. A prevalência é variável
segundo a região e o método diagnóstico empregado. Alguns levantamentos
sorológicos revelaram percentuais de 1 a 6% de prevalência nos Estados Unidos,
25% no Peru e 11,8% em cães de rua do México. Na região do planalto
catarinense, Brasil, foi encontrada prevalência de 6% de cães soropositivos na
zona urbana e 3% na zona rural, em levantamento soro-epidemiológico na cidade
de Campinas, Brasil, detectou 5,4% de cães infectados. No município de Pelotas,
Brasil, verificaram 22,7% de prevalência entre caninos e 7,1% entre humanos. Na
espécie humana, os registros demonstram que a maioria dos casos de infecção
estão associados à laboratoristas e à indivíduos que trabalham em canis.
c) importância e conseqüências econômicas e
sociais.
Provoca
distúrbios reprodutivos em cães, podendo ser transmitida ao homem. Além de
ocasionar perdas econômicas aos criadores de cães domiciliados e de canis, em
decorrência do comprometimento dos órgãos reprodutivos.
ETIOLOGIA:
a) Características morfológicas do agente,
resistência (ambiente e desinfetantes),
O gênero Brucella é constituído por bactérias intracelulares
facultativas, com seis espécies reconhecidas, cada uma acomete um hospedeiro
preferencial, sendo assim, identificadas conforme seu hospedeiro,
características morfológicas, propriedades metabólicas, sorotipagem e
fenotipagem. A B. canis causa uma
enfermidade infecto-contagiosa crônica, reconhecida como pequeno (1,0 - 1,5 μm)
cocobacilo, Gram negativo, aeróbico, imóvel, não esporulado e não encapsulado,
que se distingue de outros do gênero Brucella,
por apresentar colônias com morfologia rugosa e aspecto mucóide, e
características bioquímicas próprias. As espécies do gênero Brucella são bastante sensíveis aos
desinfetantes comuns, à luz e a dessecação. Em cadáveres ou tecidos
contaminados enterrados, podem resistir vivas por um a dois meses em clima
frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em regiões quentes, um a dois meses em
clima frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em regiões quentes.
b) ciclo evolutivo ou biológico.
Após a
entrada no hospedeiro, a Brucella canis é fagocitada por macrófagos e
outras células fagocitárias, ela resiste às enzimas produzidas pelos fagócitos
e é transportada para os linfonodos regionais, podendo causar linfadenopatia
periférica, a partir dos linfonodos regionais, os microrganismos disseminam-se
por via hematógena e podem localizar-se no fígado, baço e no trato reprodutivo.
HOSPEDEIRO:
a) Suscetibilidade em função das
características peculiares de espécie e diferentes grupos de indivíduos.
A brucelose canina é uma enfermidade
contagiosa crônica que acomete os cães, os canídeos silvestres e o homem. A
prevalência de infecção é maior em áreas economicamente carentes. Áreas
fechadas de confinamento, como canis, aumentam a probabilidade de transmissão
de infecções.
PATOGENIA:
a) Porta de entrada principal;- Destino seguido pelo agente desde a porta
de entrada até o(s) ou tecido(s) de eleição;
Nos cães, as principais portas de entrada da bactéria compreendem
principalmente as mucosas oronasal, genital e conjuntival. Infecções
experimentais já foram induzidas pelas vias intravenosa, subcutânea,
intraperitoneal e intravaginal. Após a penetração no organismo, o agente é fagocitado
por macrófagos ou outras células fagocitárias, transportado para órgãos
genitais e linfonodos, desenvolvendo linfadenopatia transitória e no interior
dos leucócitos realiza bacteremia. Durante a fase de bacteremia ocorre
disseminação bacteriana por todo o organismo do hospedeiro, mas
preferencialmente para tecidos ricos em esteróides gonadais e em células
reticuloendoteliais como baço, fígado, linfonodos, medula óssea, útero de
fêmeas gestantes, próstata, epidídimos e testículos. Outros sítios de localização
são os rins, circulação dos discos intervertebrais, meninges e câmara anterior
dos olhos. Uma vez cessada a bacteremia, esses tecidos podem constituir sítios
de persistência bacteriana, caracterizando a fase crônica da infecção. Após a
bacteremia, títulos de anticorpos persistentes e não protetores contra B. canis começam a ser detectados e a
resposta imune é predominantemente celular. Entretanto, parecem ter pouca
influência sobre a bacteremia e o número de microrganismos encontrados nos
tecidos.
b) Tempo necessário para que o agente, uma vez no organismo do
hospedeiro, desenvolva sua ação (período de incubação);
Após uma a quatro semanas da
infecção, o agente já pode ser isolado na hemocultura, persistindo por no
mínimo seis meses e de forma intermitente pode durar até 64 meses ou mais.
Porém, em animais cronicamente infectados a bacteremia pode estar ausente
impossibilitando o isolamento.
c) Alterações estruturais que imprime aos
órgãos ou tecidos de eleição (Lesões);
d) Alterações fisiológicas, que determinam no
organismo afetado, decorrentes de funções bloqueadas (Sinais e Sintomas);
A presença do agente no organismo causa principalmente alterações
reprodutivas como infertilidade, abortamentos, principalmente no terço final da
gestação e a ocorrência de natimortos ou do nascimento de filhotes débeis.
Ocasionalmente afeta outros tecidos causando alterações como uveíte,
discoespondilite, osteomielite e dermatite. Em sua maioria, as infecções por B. canis são inaparentes. Infecta o
útero nas fêmeas prenhes e coloniza as células epiteliais placentárias,
resultando em morte embrionária ou fetal, abortamentos tardios no terço final
da gestação, podendo ocorrer retenção de placenta e/ou corrimento vaginal
persistente. Algumas fêmeas podem apresentar vários abortamentos consecutivos.
Em alguns casos, podem levar a gestação a termo com nascimento de natimortos,
filhotes fracos que morrem em poucos dias, ou filhotes aparentemente sadios,
exceto pela bacteremia persistente e o enfartamento de linfonodos, que geralmente
é o único sinal clínico da infecção até a maturidade sexual. As cadelas
infectadas não prenhes comumente não mostram sinais de infecção, mas podem
eliminar o microrganismo na urina e secreções vaginais por período de tempo
variável. As manifestações clínicas de brucelose mais frequentes nos machos,
são as epididimites e prostatites severas. A epididimite desenvolve-se cerca de
cinco semanas pós-infecção. Durante a fase aguda da doença, o testículo e o
epidídimo aumentam de tamanho, e este último torna-se sensível devido à
presença de fluido serosanguinolento na túnica albugínea. O epidídimo diminui
de tamanho na fase crônica da infecção, apresentando consistência firme e
geralmente há atrofia epididimária.
e) Evolução do quadro: duração e curso da doença
(Prognóstico).
Danos testiculares desenvolvidos
pela ação direta da bactéria, iniciam uma resposta auto-imune contra os
espermatozóides e determinam distúrbios na espermatogênese, alterações da
morfologia e redução na motilidade dos espermatozóides, presença de células
inflamatórias e redução de volume do ejaculado. Acredita-se que este fenômeno
auto-imune, esteja envolvido na patogenia da esterilidade, que geralmente
ocorre nas infecções crônicas. Independentemente do desenvolvimento da
esterilidade, os cães continuam excretando a bactéria no fluido seminal.
Relata-se recuperação espontânea da infecção entre um e cinco anos
pós-infecção. Animais que se recuperaram da infecção apresentam títulos
aglutinantes baixos ou ausentes e podem apresentar-se imunes à re-infecção.
Mesmo sendo uma doença sistêmica, raramente cães adultos manifestam sinais
clínicos sistêmicos severos, sendo o principal problema à ocorrência de
prejuízos no desempenho reprodutivo. A presença dos sinais clínicos é sugestiva
da infecção, mas o único método definitivo para o diagnóstico da brucelose em
cães é o isolamento bacteriano do agente que fornece diagnóstico definitivo
quando a bactéria é isolada. Entretanto, é demorado, e resultados negativos na
cultura, decorrentes de pequena quantidade de microorganismos viáveis ou
contaminação da amostra, não eliminam a possibilidade de infecção.
DIAGNÓSTICO:
b) Clínico:- considerar os sintomas mais
sugestivos do ponto de vista populacional;
O diagnóstico é sugerido pela
história clínica, por anormalidades no sêmen e relativa ausência de
anormalidades físicas. Todavia, o diagnóstico definitivo consiste no isolamento
do microorganismo, caracterizando-se como método que consome muito tempo e por
isso pouco prático como teste de rotina em animais assintomáticos. O sucesso do
diagnóstico ainda depende da escolha do material a ser cultivado.
c) Laboratorial:- material de escolha;
métodos recomendados
Diagnostico Direto: O
microorganismo pode ser isolado a partir da cultura do sangue, aspirado de
medula óssea, sêmen, secreção vaginal, urina, leite, humor aquoso, órgãos como
o fígado, baço, linfonodos, útero, ovário, próstata, epidídimo, testículo ou ainda
líquido amniótico, placenta, rins, fígado, baço, pulmão e fluidos pleurais de
fetos abortados. O sangue é a melhor amostra a ser cultivada na tentativa de
isolamento, uma vez que nos cães a bacteremia é prolongada. Após uma a quatro
semanas da infecção, o agente já pode ser isolado na hemocultura, persistindo
por no mínimo seis meses e de forma intermitente pode durar até 64 meses ou
mais. Porém, em animais cronicamente infectados a bacteremia pode estar ausente
impossibilitando o isolamento. A cultura da descarga vaginal no período
imediatamente após o abortamento ou durante o estro é o mais indicado para
tentativa de isolamento do agente nas cadelas. As culturas de urina e sêmen
podem ser úteis para o diagnóstico, mas se colhidas isoladamente não são confiáveis,
uma vez que um resultado negativo não exclui a possibilidade de infecção.
Anticorpos não protetores,
produzidos contra antígenos da parede celular e do citoplasma da B. canis, podem ser detectados com oito
a 12 semanas pós-infecção. Os títulos de anticorpos permanecem altos enquanto
persiste a bacteremia. Quando a bacteremia torna-se intermitente, os títulos de
anticorpos declinam e podem tornar-se duvidosos ou negativos, enquanto o
microrganismo ainda persiste nos tecidos.
Diagnostico indireto: O
sorodiagnóstico da brucelose canina pode ser realizado empregando-se as
seguintes provas: soroaglutinação rápida (SAR), soroaglutinação lenta (SAL),
imunodifusão em gel de ágar (IDGA) e ensaio imunoenzimático (ELISA). Pelas
características de especificidade moderada da sorologia e da baixa
sensibilidade do isolamento, nenhum deles é, sozinho, adequado para o
diagnóstico de todos os casos de brucelose. Desta maneira é interessante
associá-los e tentar descobrir em que fase da doença o animal se encontra, uma
vez que em cada fase haverá maior probabilidade da bactéria ser isolada em
determinada amostra.
TRATAMENTO: quando indicado.
Como a possibilidade de êxito com o tratamento é incerta e os animais se
tornam uma fonte de infecção para outros cães e pessoa, o tratamento não é
recomendado, pois os cães tratados estarão sempre susceptíveis a reinfecção, a
brucelose ainda não tem cura, sendo assim o animal infectado permanece portador
por toda a vida. Todavia, alguns medicamentos podem ser utilizados para minimizar
os sintomas clínicos da doença e sendo utilizada de acordo com a fase da
enfermidade em que o animal se encontra, e quanto mais tardia a doença for
diagnosticada, mais difícil será o tratamento.
Tetraciclina (30 mg/kg), VO, duas vezes ao dia, durante 28 dias;
Estreptomicina (20 mg/kg), IV, uma vez ao dia, durante 14 dias. Foram
submetidos a esse tratamento 105 cães, desses 81 foram negativados;
Tetraciclina (30 mg/kg), VO, três vezes ao dia, durante 30 dias; Estreptomicina
(20 mg/kg), IM, nos dias 1 a 7 e 24 a 30. Foram submetidos a esse tratamento 19
cães, 14 foram negativados com um ciclo, 2 animais com dois ciclos e 3 cães
foram refratários; Monociclina (10 mg/kg), duas vezes ao dia; Estreptomicina
(4,5 mg/kg), IM, durante 7 dias consecutivos; Oxitetraciclina de longa ação (20
mg/kg), IM, uma vez por semana, durante um mês, associada a Estreptomicina (20
mg/kg), IM, uma vez ao dia, durante 1 semana. Dos 24 cães tratados 21 foram
negativados. Nesse mesmo estudo, não foram obtidos sucessos com Ampicilina e
observou-se bons resultados com 4 semanas de tratamento com enrofloxacina.
CADEIA DE TRANSMISSÃO:
a) fontes de infecção;
Entre os animais, a Brucella é geralmente transmitida pelo contato com a placenta,
feto, fluidos fetais e descargas vaginais de animais infectados. Os animais são
infectados após um abortamento ou parto completo. A bactéria pode ser
encontrada no sangue, urina, leite ou sêmen; produzida no leite e sêmen, pode
ter sua vida prolongada. A brucelose pode ser transmitida por fômites, e em
condições de alta umidade, baixa temperatura e se luz solar, os microorganismos
podem se tornar resistentes por muitos meses na água, fetos abortados, esterco,
pêlos, fenos, equipamentos e roupas.
b) vias de eliminação;
A Brucella canis pode ficar alojada na próstata e epidídimo de
machos infectados e ser eliminada intermitentemente no fluído seminal, mesmo
após a bacteremia ter cessado. A eliminação pelo sêmen é decorrente da presença
de microrganismos na próstata e no epidídimo. A quantidade de bactérias
isoladas a partir do sêmen em cães infectados é alta nas primeiras seis a oito
semanas pós-infecção. Entretanto, a eliminação intermitente do organismo em
baixas concentrações, foi relatada por até 60 semanas pós-infecção, podendo
continuar por até dois anos.
c) vias de transmissão; portas de entrada,
suscetiveis.
Nos cães, as principais portas
de entrada da bactéria compreendem principalmente as mucosas oronasal, genital
e conjuntival. Infecções experimentais já foram induzidas pelas vias
intravenosa, subcutânea, intraperitoneal e intravaginal. A infecção oral é a
mais frequente e a dose mínima infectante por esta via é de cerca 106
microrganismos, enquanto a dose mínima infectante por via conjuntival é 104 a
105 microrganismos. A dose infectante mínima por via venérea é desconhecida. A
transmissão ocorre no período de acasalamento ou como resultado do contato com
tecido fetal abortado e descarga vaginal. Outras formas de transmissão são a
congênita e por aerossóis. A B. canis
pode ser transmitida pelo sêmen, principalmente durante as primeiras seis a
oito semanas de infecção, pela urina, e também por fômites contaminados.
PREVENÇÃO:
a) Medidas relativas às fontes de infecção;
Para prevenção e controle dessa doença, deve-se testar todo o lote
reprodutor quanto a Brucella antes de
empreender um programa de acasalamento e, teoricamente, antes de cada
acasalamento nas fêmeas e uma ou duas vezes por ano nos machos. Os animais
positivos devem ser eliminados de canis de reprodução ou esterilizados.
b) Medidas relativas às vias de transmissão;
O controle da brucelose em canis
infectados baseia-se nas seguintes medidas: identificação e remoção de todos os
animais positivos do local, identificação das vias de transmissão, higienização
das instalações, repetição mensal dos exames laboratoriais a fim de identificar
todos os animais positivos e evitar que novos surtos venham ocorrer. Uma vez
que a infecção é confirmada num plantel, todos os animais devem ser testados
sorologicamente e bacteriologicamente, em intervalos mensais para identificação
dos positivos. Com relação aos animais de companhia, devem-se ter outras
condutas, como tratamento com antibioticoterapia e a esterilização, pois
terminam com as secreções genitais e a eliminação do microorganismo por essa
via, porem, não excluem a possibilidade de o animal permanecer como fonte de
infecção para outros cães e até mesmo para pessoas de seu convívio.
c) Medidas
gerais de controle e profilaxia.
A prevenção da infecção é
particularmente importante nos canis comerciais, já que uma vez que a infecção
é introduzida numa população canina confinada, sua disseminação ocorre
rapidamente, acometendo diversos animais. Exames bacteriológicos e sorológicos
rotineiros devem ser realizados a cada seis meses, assim como nos animais previamente
ao acasalamento. Novos animais introduzidos no plantel devem antes ser
submetidos aos exames clínicos e laboratoriais e então devem ser mantidos em
quarentena durante oito a doze semanas, quando os testes laboratoriais forem
repetidos. Os cães que apresentarem sinais clínicos sugestivos de brucelose não
devem ser introduzidos no plantel. Todos os animais reprodutores devem ser
regularmente testados para anticorpo B.
canis, antes de empreender um programa de acasalamento e, teoricamente,
antes de cada acasalamento nas fêmeas e uma ou duas vezes por ano nos machos.
Em canis todos os animais positivos devem ser eliminados da reprodução. Um
macho reprodutor não deve retornar ao serviço, mesmo após o tratamento com
antibioticoterapia.
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