INTRODUÇÃO
Uma característica importante da pecuária brasileira consiste na maior parte de seu rebanho ser criada a pasto, esta maneira constitui na forma mais econômica e prática de produzir e oferecer alimentos para os animais (FERRAZ; FELÍCIO, 2010).
De acordo com o último censo agropecuário em 2006, estima-se que a área total de pastagens no Brasil seja de 220 milhões de hectares, dentre os quais 80,25 milhões são destinados à agricultura para cultivo de grãos e pastagens para alimentação animal (IBGE, 2006).
O grande número de pastagens degradadas no Brasil dá-se pela utilização da forrageira da moda, a busca do capim milagroso por parte dos produtores. Entender a planta forrageira, sua fisiologia, necessidades, adaptações, resistência à pragas, e as adversidades do ambiente é uma pequena parte dos diversos componentes da produção animal criadas à pasto, sendo necessário entender de todos esses aspectos de forma integrada (ANDRADE et al., 2004).
Uma das preocupações no estabelecimento de pastagens principalmente com a utilização de gramíneas, é a perda da capacidade produtiva e à baixa disponibilidade de nitrogênio da área pelo seu cultivo contínuo. Visando aumentar a produtividade e diminuir a degradação da área optou-se pelo uso de fertilizantes nitrogenados, muito dispendioso devido ao custo por área corrigida, em face de esse elevado custo operacional introduziu-se leguminosas nas pastagens degradadas para estabilização produtiva e econômica para o fornecimento de nitrogênio ao sistema solo-planta (COSTA et al., 2004).
As pastagens consorciadas de gramíneas e leguminosas forrageiras constituem boa opção, de baixo custo, para atenuar o problema da degradação das pastagens. O fracasso na adoção e utilização de pastagens consorciadas, em geral, é atribuído à baixa persistência das leguminosas nas pastagens, o que está associado à falta de técnicas de manejo específicas ou eficientes para essas pastagens, e à adubação inadequada. O uso de pastagens consorciadas de gramíneas e leguminosas pode aumentar a proteína da dieta, o consumo de matéria seca e o desempenho do animal (AROEIRA et al. 2005).
As leguminosas desempenham um papel importantíssimo nas pastagens, por fixar o nitrogênio atmosférico, por meio da ação simbiótica com bactérias do gênero Rhizobium, ao sistema solo-planta-animal resultando em uma contribuição potencial ao sistema de produção animal (GARCIA et al. 2008).
2. Stylosanthes
A utilização de Stylosanthes primariamente se deu na Austrália, sendo este país o pioneiro a reconhecer e utilizar esta espécie em 1914. A partir de 1970 milhares de hectares foram ocupados e dispersos naturalmente como pastagem cultivada (EDYE, 1997).
O gênero Stylosanthes ocorre nas regiões tropicais e subtropicais. No continente americano, pode ser encontrado dos Estados Unidos à Argentina (KARIA et al. 2013).
No Brasil, no início da década de 1970 houve incentivo para utilização da consorciação de pastos de gramíneas com leguminosas, devido ao sucesso da prática obtida na Austrália que foi vista como modelo para pecuária nos trópicos (FONSECA et al. 2013).
De acordo com Costa (2006), cerca de 29 espécies de Stylosanthes são encontradas em todo o Brasil e 13 destes exemplares são encontradas exclusivamente no território brasileiro. Em sua totalidade são descritas 48 espécies e destas, 43 são exclusivas do continente americano. As espécies do gênero Stylosanthes mais utilizadas nos sistemas de produção são: S. guianensis, S. capitata e S. macrocephala (KARIA et al. 2013).
O estilosantes é uma forrageira rica em proteína e executa uma função importante de transformar o nitrogênio encontrado na atmosfera e fixá-lo biologicamente no solo. Assim, reduz os investimentos em insumos agrícolas, contribuindo para a redução dos impactos ambientais (SILVA, 2012).
2.1. BANDEIRANTES (Stylosanthes guianensis var. pauciflora).
A cultivar Bandeirante teve sua origem de uma coleta realizada em 1974 na área experimental do CPAC, Planaltina-DF. O, cultivar Bandeirante (Stylosanthes guianensis var. pauciflora), foi nomeado para lançamento pelo Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC) em 1983, como uma alternativa para formação de bancos de proteína para suplementação de bovinos na região dos Cerrados (SOUSA et al. 1983).
Essa cultivar tem excelente adaptação em toda a região dos Cerrados, com grande adaptação a solos de baixa fertilidade natural e apresenta um bom desempenho na produção de forragem com precipitações entre 900 e 3500 mm anuais, sendo considerada resistente a seca e ao pastejo. Essa cultivar apresenta taxas de crescimento de 10 a 42 kg de matéria seca/ha/dia, nos períodos seco e chuvoso, respectivamente. Pode produzir em quantidade de massa seca em torno de 2,5 toneladas por hectare ao ano e teor médio de proteína bruta de 12% (FONSECA, MARTUCSCELLO, 2013; ANDRADE, 1993).
A colheita de sementes pode ser realizada manual ou mecanicamente, em colheitas manuais podem ser obtidas produções médias de 60 kg/ha de sementes e em colheitas mecanizadas a produção atinge 40 kg/ha (ANDRADE, 1993). Esta cultivar é perene, semiereta, com 0,65 m de altura e tem caules finos, pilosos e viscosos, quando plantada em outubro-novembro, floresce em maio-junho por isso é de ciclo vegetativo longo, em média de 170 dias. As sementes possuem coloração amarelada pálida (GONSALVES, 1985) e são colhidas no final de agosto ou início de setembro com produção de sementes puras sendo em média de 53 kg/ha (SOUSA et al. 1983).
Como a semente dessas cultivar é pequena, a semeadura deverá ser superficial alcançando no máximo 1 cm a profundidade de enterro. Para formação de bancos de proteína, recomenda-se a semeadura a lanço, com uma densidade de plantio de 3 a 4kg/há e que poderá ser associada a uma cultura anual. Para áreas de produção de sementes, a semeadura pode ser realizada em linhas espaçadas de 30 a 40 cm utilizando-se uma densidade de plantação de 2 a 3 kg/ha. A melhor época para plantio se dá no início das chuvas e não é necessária a inoculação das sementes, pois a estilosantes Bandeirante nodula bem com estirpes nativas de Rizóbio (ANDRADE, 1993).
Segundo Karia et al. (2013) a cultivar bandeirante além de apresentar excelente resistência a seca, e mantém um abundante crescimento nas estações mais críticas, possui capacidade de manter-se verde ao longo do período seco do ano e devido a essa característica e ao florescimento tardio, é uma leguminosa indicada mais para uso em bancos de proteína do que em plantio consorciado com gramíneas, porém, Costa (2006) aponta que o consórcio com o capim colonião (Panicum maximum), brachiarão (B. brizantha cv. Marandu), capim-andropogon (Andropogon gayanus cv. Planaltina) e capim-elefante (Pennisetum purpureum) se apresentou eficiente e persistente na produção animal, podendo ainda ser utilizada sob a forma de pastejo direto, formação de fenos, fornecido aos animais através de cortes ou então, consorciada com outras gramíneas.
Teixeira et al. (2010) observaram que a altura média das plantas foi de 27,4 cm com produção de massa verde de 26,4 t/ha com 432 dias e teores de proteína bruta, fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), de 19,5; 35,8 e 24,7 respectivamente, com 102 dias de plantio.
Quadro comparativo entre as cultivares de leguminosas, quanto a sua resistência, produção e utilização em consórcios. |
Os ganhos diários por animal segundo Costa (2006) pode variar em torno de 250 a 600g/animal por dia ou 300 a 500kg/ha/ano, é uma leguminosa que tolera bem a defoliação desde que esteja submetida a um manejo controlado e não deve ser rebaixada a menos que 30cm do solo pois retarda o vigor da rebrota da leguminosa.
2.2.PIONEIRO (Stylosanthes macrocephala)
A cultivar Pioneiro (Stylosanthes macrocephala ), denominado, inicialmente, de S. bracteata vog., originou-se de germoplasma coletado na própria área do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC/ EMBRAPA) em Planaltina no Distrito Federal (KARIA et al, 2013).
Esta espécie de acordo com Sousa et al. (1983) apresenta excelente adaptação aos solos ácidos e de baixa fertilidade e às condições climáticas, verões quentes e chuvosos e invernos frios e secos da região dos Cerrados. Possui boa compatibilidade com gramíneas tropicais, boa persistência sob pastejo e boa produção de matéria seca, com maior produção concentrado no final do período chuvoso. Em consorciações, sua presença aumentou a produção total e o conteúdo de nitrogênio e cálcio da mistura em relação à gramínea pura.
Essa cultivar apresenta ótima tolerância às doenças, especialmente à Antracnose, causada por fungo. Essa cultivar é perene, semi-erecta, mede 0,60 m de altura e tem caules finos e pilosos, possui ciclo vegetativo médio de 120 dias. Sua flor possui cor amarela e sementes amarela pálida (ANDRADE, 1985).
Por meio da ação simbiótica com bactérias do gênero Rhizobium, aumento do nitrogênio no sistema solo-planta, a cultivar Pioneiro é ótima para ser consorciada com gramíneas. As sementes são colhidas de maio-julho obtendo produção de sementes puras, em média, de 350 kg/ha, devido à facilidade de produção de sementes a comercialização e produção não foi despertada. Os níveis produtivos desta leguminosa são bastante variável, porém, é possível obter uma média de 3 a 6 toneladas de MS/há, no entanto pode-se obter rendimentos em torno de 14 toneladas de MS/ha (ANDRADE, KARIA, 2000).
2.3. MINEIRÃO (Stylosanthes guianensis var. guianensis)
Em 1993 a Embrapa Cerrados e a Embrapa Gado de Corte liberaram o cultivar Mineirão, que é perene semiereto, pode atingir uma altura média de 2,5 metros e caules
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grossos. Os caules e folhas possuem viscosidades e a planta permanece verde durante o período seco. A cultivar Mineirão é mais tolerante à antracnose do que o cv. Bandeirante, e mais produtivo em solos com baixa fertilidade (EMBRAPA, 2007).
Sua parte aérea possui proteína bruta de até 12%, em geral os animais a consomem no período seco do ano, mas no período chuvoso eles a consomem e o teor de proteína chega a atingir 18%. Quando semeado em outubro-novembro florescerá em maio-junho com produção de sementes variando de 30 a 60 kg/ha. Suas sementes ao contrário das cultivares Bandeirante e Pioneiro, apresentam coloração amarela pálida e as sementes do cultivar Mineirão apresentam coloração escura (GONSALVES, 1985).
Em trabalho realizado com gramíneas consorciadas com a cultivar Mineirão, Andrade et al. (2003) relataram que as gramíneas B. brizantha cv. Marandu, a B. decumbens e o capim-mombaça, quando consorciados com o estilosantes Mineirão, apresentaram maior capacidade de produção de forragem.
Aroeira et al. (2005) observaram que na consorciação da Brachiaria decumbens com o cultivar Mineirão houve decréscimo na porcentagem de leguminosa, na qual atribuíram esse efeito devido à competição por água, luz e nutrientes, e entre as espécies. A porcentagem da leguminosa na pastagem permaneceu constante durante os meses de janeiro a maio (26% a 29%), alcançou o maior valor (56%) durante o final do período seco (outubro) e diminuiu com o início da época das chuvas (dezembro). Em decorrência da maior eficiência fotossintética da B. decumbens em relação à S. guianensis cv. Mineirão nas condições experimentais.
Costa et al. (2002) constataram que a altura e a produção de matéria seca do Stylosanthes guianensis cv. Mineirão foram influenciadas pela aplicação de calcário com pouca eficiência. Já que baixas doses de calcário são suficientes para se elevar o teor de proteína desta cultivar estudada, no entanto, a produção desta cultivar pode variar de 5 a 10 toneladas/há podendo alcançar a produção máxima de 20 toneladas.
Paciullo et al. (2003), compararam a massa de forragem e a qualidade de pastagens de Brachiaria decumbens em monocultivo e consorciadas com estilosantes (Stylosanthes guianensis cv. Mineirão), mostraram que a pastagem consorciada obteve maior produção de forragem de 2.158 kg/ha do que a monocultura de braquiária apresentando cerca de 1.481 kg/ha, mesmo sem alterações da massa da gramínea com a introdução da leguminosa.
Ladeira et al., (2001) estudaram a composição e digestibilidade em ovinos do estilosantes Mineirão e relataram que mesmo em estágio avançado de maturação ele pode ser
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utilizado para alimentação de ruminantes, sendo capaz de suprir as necessidades energéticas de mantença.
2.4. CAMPO GRANDE (Stylosanthes capitata + Stylosanthes macrocephala)
Em 2000 a Embrapa Gado de Corte lançou no mercado o estilosantes Campo Grande, uma cultivar composta por duas espécies de leguminosas, o Stylosanthes macrocephala e o S. capitata. Essa cultivar foi obtida a partir da seleção de plantas dessas duas espécies em uma área da Fazenda Maracujá (Campo Grande, MS), onde havia sido realizado um experimento em anos anteriores à década de 1990 (KARIA et al. 2013).
A área experimental onde o Stylosanthes cv. Campo grande era formada por solos bastante arenosos e essas plantas se mostravam bem adaptadas às condições de baixa fertilidade do solo e apresentavam alto grau de resistência à antracnose, lesões necróticas, irregulares, inicialmente de cor parda em folhas jovens e posteriormente de coloração avermelhada em folhas mais velhas. Sementes das plantas selecionadas foram plantadas em linhas intercaladas com dez outros acessos de S. capitata e cinco outros de S. macrocephala, previamente selecionados na Embrapa Gado de Corte para produtividade de matéria seca, produtividade de sementes e resistência à antracnose. As espécies foram cultivadas em áreas separadas, onde se permitiu o cruzamento natural entre as plantas, havendo a formação de duas populações com características agronômicas desejáveis, originando assim a cultivar Campo Grande, que é formada por 20% de S. macrocephala e 80% de S. capitata (EMBRAPA, 2000).
O estilosantes Campo Grande foi recomendado pela Embrapa Gado de Corte para regiões de clima tropical, com pluviosidade anual mínima de 700 mm e máxima de 1.800 mm, não se adaptando a locais sujeitos à ocorrência de geadas frequentes ou com umidade do ar e temperaturas altas o ano todo. Quanto ao solo ela é bastante adaptada a solos ácidos e considerada pouco exigente em fertilidade do solo (ZIMMER et al. 2007).
Em estandes puros, a produção de forragem anual do estilosantes Campo Grande varia de 8 a 14 toneladas de matéria seca por hectare, 12 a 15 toneladas de MS/ha/ano (FERNANDES et al., 2005); e quando consorciado com gramíneas, espera-se uma produção em torno de 3 a 6 t/ha/ano, (VALENTIM; MOREIRA, 1996) considerando que a participação da leguminosa na pastagem varia de 30% a 40% da matéria seca de forragem produzida. De
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acordo com Zimmer et al. (2007) o potencial de produção anual de sementes do estilosantes campo grande solteiro é de 300 a 700 kg/ha de sementes com casca.
Na consorciação, a taxa de semeadura do estilosantes Campo Grande deve ser de 2 quilos por hectare a 2,5 quilos por hectare de sementes puras viáveis (SPV) e, a das gramíneas (capim), é reduzida em 20% a 30%.
As sementes de estilosantes são pequenas e a profundidade de plantio não deve ser maior do que 2 centímetros. No entanto, com gramíneas que não toleram plantios mais profundos do que 4 centímetros, como Andropogon gayanus, recomenda-se a distribuição a lanço das duas forrageiras, seguida de compactação com rolo.
O correto manejo da pastagem consorciada possibilita melhores ganhos. Em sistemas de manejos rotacionados, os benefícios da consorciação têm sido mais expressivos (SCHUNKE; SILVA, 2003).
Garcia et al. (2008), avaliaram pastagens de Brachiaria decumbens exclusivas e consorciadas com o estilosantes Campo Grande, mostrando que, na área consorciada, a B. decumbens alcançou maior produção de matéria seca por hectare e maior teor de proteína bruta. Atribuindo à leguminosa que permitiu uma eficiente reciclagem de nitrogênio no sistema solo-planta.
CONCLUSÃO
Observando as características de cada cultivar do gênero Stylosanthes sp. conclui-se que as cultivares espécie Mineirão e a Campo Grande são mais indicadas para a exploração nas condições climáticas do nordeste brasileiro onde o regime das chuvas não são constantes. Tal escolha justifica-se principalmente por suas características comuns de adaptabilidade dos cultivos em solos de pouca fertilidade e precipitação pluviométrica o que desde já implica em uma redução nos custos de produção pela mínima necessidade de correção dos solos via adubação. A resistência às doenças como a antracnose, a seca e as baixa fertilidade do solo são características comuns nessas cultivares e desejadas para a região semiárida nordestina. No entanto a cultivar Campo Grande ainda apresenta uma característica de maior adaptação ao clima semi-árido nordestino, pela compatibilidade com o regime pluviométrico característico de nossa região, em torno de 800 mm médios anuais, sem quaisquer ocorrências de geadas. Portanto a escolha destas duas cultivares possibilita o melhor aproveitamento da exploração animal em sistema de pastagem, proporcionando boas condições produtivas e reduzido custo para o criador.
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