A gestação é uma condição fisiológica especial, mas
não uma doença.
CONCEITOS BÁSICOS
·
Quanto ao número de partos, as fêmeas podem ser:
A Nulípara =
nunca pariu
A Primípara
= 1ª gestação ou 1º parto
A Plurípura
= vários partos ou gestações
·
Quanto ao número de filhotes por gestação, as
fêmeas podem ser:
A Unípara = 1
filhote/gestação, tem útero bipartido (cornos pequenos em relação ao corpo
uterino)
A Multípara
= vários filhotes/gestação, tem útero bicornual (cornos grandes em relação ao
corpo uterino)
DURAÇÃO DA GESTAÇÃO
A duração da gestação varia com a espécie:
Espécie
|
Duração*
|
|
Equino
|
330-345d
|
11m
|
Bubalino
|
298-317d
|
10m
|
Bovino
|
270-290d
|
9m
|
Caprino
|
145-151d
|
5m
|
Ovino
|
144-152d
|
5m
|
Suíno
|
112-115d
|
3m3s3d
|
Canino
|
56-59d
|
2m
|
Felino
|
64-68d
|
2m
|
*Em bovinos, ± 10 dias; nas demais espécies considerar ± 5
dias.
Os fatores que influenciam o tempo de gestação podem
ser maternos, genéticos, fetais, ambientais (nas espécies
fotoperíodo-dependentes), outros (ex: estresse pode encurtar ou prolongar a
gestação). Cada fêmea tem uma característica e a duração da gestação é
genética. Em fêmeas multíparas, quanto mais fetos, mais curta a gestação em
virtude da quantidade de cortisol. Gênero e tamanho dos fetos também
influenciam a duração da gravidez, onde fetos machos prolongam a gravidez.
IMUNOLOGIA DA GESTAÇÃO
Imunologia da gestação é uma particularidade, visto
que agora o organismo materno abriga uma estrutura estranha, o concepto, que
possui material genético tanto da mãe, como do pai. O concepto é reconhecido
pelo sistema imune como um "parasita", sendo um parasita perfeito,
pois além de aproveitar nutrientes da mãe, ele também é uma prioridade dentro
do organismo materno. Então, como o embrião contendo antígenos consegue
sobreviver em um organismo imunocompetente? Para isso deve haver um bloqueio à
rejeição imunológica, através de:
·
Redução de antígenos do complexo principal de
histocompatibilidade classes I e II (MHC I e II), de modo que o concepto fica
"escondido" do sistema imune da mãe;
·
Ação sobre citocinas maternas, modificando o
balanço da distribuição de linfócitos T-helper (Th), reduzindo Th1, que são
lesivos à gestação, e aumentando Th2;
·
Moléculas, secretadas pelo tecido materno e
trofoblasto, com função de inibir a replicação de linfócitos e atividade
celular dentro do útero; dentre as moléculas liberadas pela placenta tem-se:
A Progesterona
(P4), que é imunossupressora, porém se por um lado permite a manutenção da
gestação (protegendo o concepto do ataque do sistema imune da mãe), por outro
facilita infecções;
A Prostaglandina
E2 (PGE2), também imunossupressora;
A Interferon
tao (INFt), importante em ruminantes, funciona como mecanismo protetor do
embrião ao ligar-se às células embrionárias tornando-as refratárias aos
anticorpos (AC) maternos;
A Proteína
associada à gestação (PAG) que se liga aos AC maternos impedindo que estes se
liguem ao embrião. (Obs.: não há PAG em cadelas)
ENDOCRINOLOGIA DA GESTAÇÃO
Progesterona
Em qualquer espécie (dentre os mamíferos), a gestação
é dominada e mantida pela P4, que pode ser fornecida pelo corpo lúteo (CL) ou
pela placenta, de acordo com cada espécie. A P4 produz uma série de alterações:
·
Suprime o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal,
interrompendo o ciclo estral;
·
Imunossupressão uterina;
·
Suprime a contratilidade uterina;
·
Estimula glândulas endometriais, para produção
de leite uterino que nutre o embrião antes da formação da placenta;
·
Promove hiperplasia (Ûnúmero
de células) e hipertrofia (Û
tamanho) de todas as camadas do útero;
·
Promove desvios metabólicos e circulatórios de
modo que o útero seja prioridade do organismo;
·
É anti-insulinêmico, já que o principal
nutriente usado pelo feto é a glicose. Obs.:
por ser anti-insulinêmico, não usar medicação P4 em fêmeas diabéticas;
·
Promove hipertrofia cardíaca, para garantir o
aumento da volemia (aprox. 30%). Obs.:
o aumento da volemia é apenas aumento de líquido e não de células, logo o hematócrito
da gestante é baixo;
·
Desenvolvimento do epitélio mamário no final da
gestação, para que haja produção de colostro (porém, a produção de colostro não
é dada pela P4).
*Obs: Gatas a placenta após 42ºd; Éguas após 7º mês; Ovelhas após 70ºd
(mas o CL pode permanecer).
Estrógenos
Estrógenos são um grupo de substâncias, onde o 17b-estradiol é o principal estrógeno da fêmea
não gestante, e estrona é o principal estrógeno da fêmea gestante, bem como o
estradiol. A estrona é produzida pela unidade feto-placentária, ou seja, pela
porção trofoblástica do embrião e placenta. Em suínos e equinos, esse hormônio
participa do reconhecimento materno. O estradiol é liberado para desencadear o
parto.
Os estrógenos participam da implantação desencadeando
uma reação inflamatória no sítio de implantação, escavando o endométrio e dando
espaço para a implantação. Esses hormônios também participam da formação dos
ductos da glândula mamária, enquanto que a P4 forma os alvéolos mamários e a
prolactina age na liberação do leite.
Prolactina
Esse hormônio aumenta os receptores de LH no CL, bem
como a absorção de colesterol para a formação de estrógenos. Logo, atua na
manutenção do CL e da gestação.
Relaxina (relaxina
gestacional ≠ relaxina parto)
É produzida pelo CL, exceto nos carnívoros que é
produzida pela placenta. Nos suínos é produzida em grande quantidade, pois o
útero é grande. Age em sinergismo com a P4 para manter o relaxamento uterino
(quiescência uterina). Nos carnívoros serve como diagnóstico de gestação, pois
só há relaxina quando há placenta.
Lactogênio placentário
É produzido exclusivamente por primatas e ruminantes.
Tem constituição bioquímica semelhante ao GH (crescimento fetal) e à Prolactina
(desenvolvimento da glândula mamária e produção de colostro)
Gonadotrofina coriônica equina
(eCG)
Responsável pela manutenção de CL acessórios.
Gonadotrofina coriônica humana (hCG)
Ocorre em todos os primatas. É produzida pela
placenta. É bioquimicamente análoga ao LH, logo sua principal função é a
manutenção de CL.
Obs.: LH é necessário para
manter CL (exceto em cadelas e gatas). Os picos de LH também são necessários
para preparar os futuros folículos ovulatórios.
ADAPTAÇÃO MATERNA
A P4 promove adaptação do organismo materno para
manter o feto através de:
·
Manutenção do balando hidroeletrolítico, apesar
do aumento de volemia;
·
Modificações metabólicas, regulando níveis de
nutrientes para o feto;
·
Modificações hemodinâmicas para suprir o útero e
as glândulas mamárias (no final da gestação);
·
Modificações nos órgãos reprodutivos, aumentando
o tamanho e formando tampão na cérvix (protegendo contra infecções).
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