Conformação e anatomia da superfície externa
Em termos de limites externos
se observa estruturas como as costelas ou
a arcada costal que ajudam a delimitar cranialmente o abdômen, a porção
palpável nos animais é somente aquela que está depois da ultima costela em
sentido caudal, no entanto o fígado, o
estômago e o baço ficam alojados sob a arcada costal e são, portanto,
vísceras abdominais uma vez que estão retro diafragmáticos ou retrofrênico.
O abdômen por si só começa
após a última costela, entretanto, ele se adentra ao tórax em virtude do
formato côncavo do diafragma, ou seja, o diafragma é o limite mais cranial
entre obdômen e tórax, ao falar em limite
cranial externo têm-se como referências as últimas costelas, e ao falar em limite cranial interno do abdômen é o diafragma.
Ventralmente encontra-se
uma anastomose com a musculatura contralateral. Quando se observa o abdômen por
uma vista lateral ele vai finalizar na porção mais baixa e ventral, justamente
na área que se une com a outra musculatura formando
a linha Alba.
Se na porção cranial observa-se o diafragma na porção ventral
haverá a linha Alba, formada pela anastomose da musculatura que compõe a parede
lateral do abdômen, lateralmente vamos ter formando os limites laterais abdominais
somente a musculatura, pele, tecido subcutâneo e adiposo.
Dorsalmente o abdômen vai
ter como limite aborda ventral da musculatura paralombar, ao observar o abdômen
de lado numa porção quadrupedal, existe uma fração onde não será possível fazer
palpação por não haver vísceras abdominais, existe um teto de cavidade
abdominal formado por todas as vértebras e seus respectivos processos
transversos e a musculatura que recobre essas estruturas, portanto, a porção
mais baixa dessa região por haver uma espessa camada de músculo forma um triângulo
denominado de vazio.
Caudalmente o limite do abdômen vai
ser a crista pectínea na borda
cranial da asa do íleo.
Ao visualizar o animal
pela face ventral, é possível observar limites coincidentes, como o arco costal, crista pectínea e paredes
abdominais que delimitam tanto a cavidade, quanto os limites da cavidade.
A divisão do abdômen é
feita em quadrantes que, de acordo com a área, vamos mexer com um órgão distinto
onde, por exemplo, é permitida a palpação na região abdominal nos animais. Em
grandes animais essa prática fica restrita devido à densidade muscular e em relação
às demais espécies, pois temos no ruminante, o rumem, um gigantesco saco que se situa no lado esquerdo do abdômen, e no equino grande parte do lado direito, ocupado pelo ceco, especialmente
nas bordas ou nas porções mais ventrais do abdômen, tanto que o ceco faz
relações com o apêndice xifoide, abaixo e a direita temos o ceco, no caso do
bovino não há essa relação, diferentemente das demais espécies.
Retomando: os limites do
abdômen se restringem cranialmente no limite das costelas, caudalmente na asa
do íleo e crista pectínea, ventralmente a região da linha Alba e dorsalmente a
borda ventral dos músculos lombares.
Caudal a última costela, cranial a asa do íleo,
percebe-se que é ocupada e tem um formato triangular em todas as espécies em
virtude da elevação que as costelas conferem a essa região. Esse local é
importante e denomina-se de fossa
paralombar, direita ou esquerda, encontram-se órgãos diferentes conforme a
espécie que se relaciona.
No caso do cão ao
colocarmos a mão na fossa paralombar principalmente na região mais cranial, o
órgão mais próximo da relação com os dedos será os rins, em ambos os lados
haveria uma facilidade maior em fazer uma palpação renal pela região de fossa
paralombar. Ao palpar pelo lado direito mais cranial a fossa paralombar encontra-se
o fígado que se estende até próximo do arco costal, pois ele só se torna
palpável além do arco costal em quadros de hepatite, pois o fígado aumenta de
tamanho e se torna palpável além do bordo da arcada costal.
A cavidade abdominal
começa especificamente abaixo dos processos transversos das Vértebras Lombares
que passa a ter a musculatura da cavidade abdominal.
O abdômen numa vista
ventral pode ser dividido em nove quadrantes não uniformes, que em cada
quadrante sempre haverá os mesmos órgãos nas diferentes espécies.
Essa divisão ocorre pelas
linhas que cruzam desde a região mais medial do corpo do íleo em linha reta até
a cartilagem costocondral e a mesma coisa do lado oposto. Caudal a costela
traça-se uma linha transversal ao corpo da mesma forma na asa do íleo traça-se
mais uma linha transversal.
A primeira parte que fica
próxima à região do xifoide, e chamada de região xifoideia, o quadrante que fica abaixo das cartilagens costais são regiões hipocondrais, direito e esquerdo,
no lado direito dessa região é possível palpar rins e fígado e no lado esquerdo pode-se conseguir palpar rim esquerdo. Abaixo da região hipocondral encontra-se a região de flanco ou vazio e entre
elas a região umbilical ou epigástrica,
região inguinal direita e esquerda e região pubiana.
Num caso clínico em que
um animal esta a um dia sem urinar, a região mais provável de inserção de um
cateter seria na região púbica, pois a bexiga repleta, sem dúvida, se move da
região pélvica para a região púbica.
Caso um equino apresente, por exemplo, uma
compactação do ceco, a região que poderia se ter acesso a este órgão seria a
mais provável a região xifoideia ou
a região hipocondral direito ou pelo
flanco direito.
No caso de colocar uma fístula
ruminal, a região que mais indicada seria no flanco do lado esquerdo normalmente na porção mais alta dessa
região, devido à visualização de rumem.
Profundamente a estrutura
que forma o abdome é essencialmente muscular diferente do tórax que possui um
arcabouço ósseo, formado pelas costelas.
O Abdômen é formado por quatro músculos que formam a cavidade
abdominal e que protegem os órgãos e estruturas abdominais. A primeira
musculatura mais externa e superficial de todas é o músculo oblíquo abdominal externo (nº 5) que se originam da região do
corpo da 4ª costela até aproximadamente a 13ª costela, além disso, as últimas
fibras podem ter inserção numa estrutura chamada de fáscia toracolombar e ainda uma porção dessas fibras se inserem na
bainha do músculo reto abdominal.
Abaixo do oblíquo externo
encontra-se o músculo oblíquo abdominal interno (nº 8) essas musculaturas se originam
da aponeurose ou da fáscia toracolombar
na porção mais superior e se inserem na bainha
do músculo reto abdominal.
O músculo reto é circulado por uma bainha, essa bainha é formada pela
inserção das bainhas do músculo obliquo
abdominal externo e interno e transverso abdominal. Nessa região de bainha
passa a veia umbilical no caso de neonatos que posteriormente torna-se o
ligamento umbilical, nessa região pode acontecer uma hérnia por conta de má
formação ou fechamento desse local após o nascimento.
nº 1 linha Alba, nº 4 canal inguinal |
Em quadros mais graves
podem acontecer casos conhecidos como eventrações,
essa patologia o animal nasce e as alças intestinais ficam expostas, por não
ter acontecido a fusão da bainha do músculo reto abdominal.
Na porção mais caudal do
músculo reto do abdômen, a bainha que envolve o músculo nas porções ventrais e dorsais passa a
existir apenas na porção mais externa da musculatura.
Visualização dos músculos oblíquos interno e externo, reto do abdômen |
Canal inguinal
É um dos locais onde
comumente podem ocorrer hérnias (passagem de órgãos abdominais pó essa
abertura).
Essa região é
caracterizada por ser um espaço lateralmente entre os músculos oblíquos
abdominais externos e internos e possuem um ponto de inserção comum, existe a
formação de uma estrutura que não é fechada pela qual no caso dos machos,
ocorre a passagem dos testículos para a bolsa escrotal que na vida uterina é
intra-abdominal, e na vida extrauterina é extra-abdominal.
O canal inguinal é
formado na região mais cranial pela inserção da musculatura do oblíquo
abdominal externo e dorsalmente pela inserção do oblíquo abdominal interno,
mais profundamente e mais cranialmente ele se inverte o interno forma a porção
mais dorsal e o externo a porção mais ventral.
Essas estruturas se
estendem desde o anel inguinal interno até o anel inguinal externo. E permite a
passagem de grandes vasos e nervos gênito femorais e no caso dos machos a
passagem das gônadas, (testículos) a camada mais superficial do músculo oblíquo
interno forma a porção dorsal e cranial e na remoção do oblíquo abdominal
externo fica visível na porção mais profunda formando tanto a porção mais
cranial quanto na porção lateral desse forame.
Nessa região passa os
vasos, nervos e gônadas, eventualmente quando essa estrutura de inserção abdominal
é fragilizada e em algumas condições de caráter hormonal, pode ocorrer que a
porção mais externa dessa musculatura fica flácida e se dilata sendo possível
extravasar vísceras, especialmente intestino e no caso das fêmeas o útero.
Existem casos de gestação
extra-abdominal o filhote está dentro do útero, porém, a gestação ocorre fora
da cavidade abdominal, o feto cresce normalmente, porém, o nascimento ocorre apenas
por cesárea.
Os suprimentos sanguíneos
são representados por 4 artérias (duas do lado direito e duas do lado esquerdo)
epigástrica Cranial que é
continuidade da artérias torácica e
assim que emite a frênica dorsal ela torna-se a epigástrica cranial. Esta passa
entre os músculos retos abdominais e oblíquos abdominais artéria epigástrica caudal.
Veias e artérias epigástrica caudal entre os músculos abdominais (estas se anastomosam com as veias e artérias epigástricas craniais) |
Ao abrir o abdômen pela
linha reta ou linha Alba e seccionar as paredes e ter acesso às vísceras, observa-se
uma estrutura amarelada esbranquiçada recobrindo todas as vísceras com exceção
do fígado e baço, essa estrutura é chamada de omento, essa estrutura não
recobre esses órgãos por ser originadas da curvatura maior do estômago se
reverter e inserir na porção ventral desses órgãos lateralmente a veia cava.
O omento irá formar o ligamento gastroesplênico ele se dobra
do estômago sobre o baço e em sentido caudal. Existem várias estruturas de
sustentação do intestino, a primeira e mais comum delas é o mesoduodeno no teto
da cavidade abdominal, mesorreto e mesocólon e fixando no estômago parcialmente
ao teto o ligamento gastroesplênico, ou seja, o omento é um reflexo desse
ligamento (gastroesplênico) em sentido caudal. O omento serve como via de
transporte de vasos até as alças intestinais.
Localização e relações
No estômago existe três regiões distintas, cardica, fundica e pilorica, a região
fúndica e região de cárdia, são as mais
capaz de se dilatar. Ao chegar no piloro em secções longitudinais do estômago,
a espessura da parede deste órgão tende a ficar ligeiramente mais grossa e via de regra
percebe-se que em animais domésticos principalmente nos monogástricos as
porções mais fáceis de se dilatar são as regiões mais altas do cárdia e fúndica, essas regiões em
termos fisiológicos são as áreas que disparam a sensação de saciedade quando
estão tensas, informando ao cérebro quando o órgão está cheio, isso ocorre
geralmente de maneira tardia.
Observa-se em carnívoros uma
tendência ao sobrecarregamento gástrico importante em caso de filhotes, o estômago
vazio dificilmente são palpáveis, pois, fica parcialmente encoberto pelas
costelas, este órgão desce até o assoalho da cavidade abdominal quando está
cheio e torna-se palpável.
Nas áreas de região
pilórica, produz uma substância denominada de fator intrínseco que funciona como potencial carreador de absorção
de algumas vitaminas do complexo B.
A região fúndica se
projeta dorsalmente é uma porção mais alta, é a região do cárdia ligeiramente
mais alargada, e nessa região que tende a começar a ocorrer o processo de
vômito.
O corpo e o fundo são colocados à esquerda da linha média, e tem contato íntimo com diafragma e fígado, e a porção mais
distal do estômago que caminha ao piloro fica mais à esquerda, em compensação o
piloro se projeta para o lado direito. Quando o estômago está repleto, ele
faz relação íntima com o assoalho da cavidade abdominal, dependendo do grau de
repleção deste órgão, o baço se move e pode chegar a ficar junto ao assoalho da
cavidade abdominal.
O fígado ocupa uma porção maior do lado direito da cavidade abdominal. Nas proximidades
destes órgãos observa-se a veia cava e ligeiramente
à esquerda do plano mediano observa-se o esôfago.
Nesta figura o jejuno foi removido |
O duodeno está localizado no lado direito e segue ainda pelo lado
direito até fazer a flexura cranial porção transversa, segue até a flexura
duodenal caudal e o jejuno encontra-se espalhado na porção inferior (ventral) e
caudal do abdômem. Ao relacionar a localização dos órgãos com os quadrantes, na
porção inferior cranial, o jejuno estaria na região xifoideia, hipocondral direita e esquerda, umbilical, flanco
direito e esquerdo. A bexiga estaria na região pubiana.
Intestino Delgado
Uma das mais importantes
informações a se saber sobre intestino delgado está na localização de duodeno
para não mexer nessa porção do órgão, isso se deve ao fato que aderido à
curvatura do estomago e envolto no duodeno está o pâncreas. Intervenções nessa
região pode causar uma pancreatite por ser um glândula bastante sensível.
O ID vai ser de 3 a 5
vezes maior que o tamanho do corpo no caso de pequenos animais e em grandes
animais essa taxa tende ser maior chegando ate 15 vezes o tamanho do animal.
O duodeno é a região mais
curta em todos os animais, faz a flexura cranial, margeia a cavidade do abdômen
fazendo um íntimo contato dorsalmente com
a parede lateral direita. Desce pela lateral da cavidade abdominal até
fazer a flexura caudal, quando volta praticamente no meio, fica subvertebral
onde se abre no jejuno.
Suas relações, dorsalmente com o lobo pancreático, que na curvatura
cranial do duodeno encontra-se aderido junto à curvatura maior do estômago.
Imediatamente caudal ao piloro, ventralmente relaciona-se com o jejuno e
medialmente com o cólon ascendente. No equino as relações são mais importantes
pois, na hora de fazer a inspeção intestinal para localizar a área que esta
gerando a cólica, precisa correr todo o intestino fazendo palpação e verificar
onde está obstruído ou necrosado.
Jejuno e íleo
Forma uma massa que ocupa
a região entre estômago e bexiga bem
ventral, basicamente a diferença entre as espécies está no diâmetro desses
órgãos, porém as estruturas são as mesmas. Dorsalmente faz relação com a porção descendente do duodeno à
esquerda com rins e músculos sublombares, e ventral e cranial com o omento.
Íleo faz relação direta
com Jejuno, ceco, e cólon.
Fígado
O fígado é um órgão que
pode ser considerado intratorácico, por conta da face cranial deste órgão possuir
uma concavidade que fica na região torácica, porém ele é um órgão abdominal,
(isso ocorre pelo fato do abdômen começar caudal a ultima costela, tendo com
limite o músculo diafragmático) mas sua maior parte fica intratorácica.
O fígado fica no lado
direito do plano mediano, no lado esquerdo encontra-se o estômago e parte esquerda do fígado. Ou seja, num
corte transversal nessa região entre fígado e estomago é possível observar porção
do fígado e estômago.
A relação dorso caudal do fígado será
diretamente com o rim direito por
ele estar mais cranial que o rim esquerdo, tanto que o fígado possui uma
impressão renal nessa região. A borda ventral do fígado se estende ligeiramente
além do arco costal, porém não é tão evidente além desta região exceto em
situações patológicas.
Caudalmente o
fígado faz relação com o estômago e cranialmente com o diafragma.
Observa-se pela face diafragmática o hilo hepático onde temos a entrada e saída
de vasos importantes como a veia porta, artéria hepática, ducto biliar,
juntamente com os ligamentos hepáticos e o falciforme.
Pâncreas
É um órgão parenquimatoso
dividido em duas porções lobo esquerdo localizado caudomedialmente ao plano
médio e direito crânio dorsalmente, as duas porções tendem a confluir para a
mesma região, por ser um órgão exócrino tem abertura num ponto comum, ducto do
colédoco. A porção direita fica na região da curvatura cranial do duodeno sustentado no ligamento pacreaticoduodenal. A
porção esquerda fica aderida na curvatura maior do estômago.