quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

PERSPECTIVAS DA OVINOCAPRINOCULTURA NO SEMIÁRIDO

Aumento da produtividade
            A ovinocaprinocultura no Brasil nos últimos dez anos sofreram grandes mudanças para a consolidação da cadeia produtiva. Diversos segmentos despertaram a atenção dos governantes, técnicos e produtores que promoveram a intensificação nas pesquisas voltadas para a produção, beneficiamento dos seus produtos, organização dos produtores, adoção de novas tecnologias, atuação significativa de agências financiadoras promovendo acesso ao crédito e principalmente, o ponto chave de todo esse desenvolvimento, o aumento pela demanda dos produtos e subprodutos advindo da ovinocaprinocultura (RIBEIRO, 1992).
            Mesmo sendo um mercado em crescimento, o consumo de produtos de origem caprina e ovina é afetado em decorrência da qualidade que segundo Zapata et al. (1995) a deficiência nos critérios de seleção dos animais para o abate, estocagem e conservação da carne com baixo nível de higiene, critérios de operações deficientes, tornam o produto marginalizado expressando baixa qualidade em termos de higiene.
            A procura por produtos cuja sanidade estejam de acordo com os parâmetros vigentes no Brasil levaram Moreira et al. (1998) estudar a comercialização da carne caprina e ovina em alguns estados do nordeste brasileiro que revelou a necessidade da atuação das autoridades sanitárias nesse setor devido as irregularidades observadas quanto aos aspectos mínimos de higiene observados do abate até a sua comercialização.
            Pode-se ainda destacar como fatores limitantes a para o desenvolvimento desse comércio a irregularidade no fornecimento dos produtos de origem caprina e ovina, visto que a exigência do mercado se dá principalmente no fornecimento fixo desses produtos durante todo o ano sem períodos de sazonalidade, tem-se ainda o abate clandestino desses animais que agem competitivamente com frigoríficos industriais e também os elevados preços comerciais praticados no mercado que reduz a competitividade de outros produtos concorrente (CARVALHO, 2014).
            A oferta de carnes de ovinos e caprinos oriundos de frigoríficos certificados por serviços de inspeção federal ou estadual é uma vantagem que conota para o crescimento da demanda, haja vista que esses órgãos regulamentam e certificam o elevado padrão de qualidade sanitária do produto com consequente aumento da confiabilidade do mercado em consumir esse alimento (SEBRAE/RN, 2001).
            Há poucos exemplos e estudos que demonstrem os custos de produção de ovinos e caprinos de corte bem como seus derivados (OTTO et al, 1997). De modo geral o controle contábil dos produtores acaba por não seguir os padrões administrativos que são indicados, o que dificulta a avaliação real dos custos de produção não obtendo uma noção do retorno econômico-financeira da atividade.
            Alguns mitos precisam ser quebrados em torno da exploração de ovinos e caprinos, a vaidade do criador é a principal delas, pois, entende-se que essa atividade não lhe traz status social, no entanto, o importante da atividade é o lucro auferido pela exploração e a colocação do produto no mercado, oferecendo qualidade, baixos custos operacionais e que atendam minimamente as exigências do mercado consumidor dos produtos de origem caprina e ovina (GOULART, et al, 2009).
            Diferentemente dos maiores países criadores de ovinos e caprinos, o Brasil possui condições endafoclimáticas altamente favoráveis nesse segmento, porém, essa atividade no nordeste ainda não se enquadrou como cadeia produtiva dentro do enfoque do agronegócio, pois ainda é considerada pelos produtores como uma atividade secundária e pobre, enquanto criadores dos outros países orgulham-se e lucram com os produtos e subprodutos advindos dessa atividade (NETO, et al. 2007)
            A dificuldade dos produtores em determinar os custos na produção de ovinos e caprinos é uma realidade, que se torna ainda mais evidente e difícil de estabelecer quadros no cenário nordestino. Os custos de produção dependem intimamente do foco principal da atividade, pois esta poderá gerar ao mesmo tempo produtos e subprodutos distintos dependendo do tempo da forma de manejo e criação. Tem-se como exemplo, a atividade da produção a carne for o foco principal do criador, além dele produzir cordeiros ou cabritos para serem encaminhados para o frigorífico, nesse meio tempo o criador possui animais de descarte, cordeiras ou matrizes que poderão ser destinadas a repor as matrizes descartadas ou então a permanência destas para o aumento do plantel de matrizes, produção de esterco, produção de leite, pele e ainda dependendo do grau genético e tecnologia utilizada no rebanho a produção de sêmen e embriões para comercialização (MARTINS, 2011).
            Os cálculos dos custos de produção devem levar em consideração todos esses aspectos, pois são indispensáveis para avaliação da rentabilidade econômica da atividade na propriedade, todos esses aspectos são de alta dificuldade para os produtores que na maioria dos casos são de baixa escolaridade, entenderem e levar sério cada um desses pontos para haver um controle efetivo da produção. Segundo Martins (2011) existe toda uma logística no processo produtivo de cada atividade, pois é necessário compreender e definir onde começa e onde termina cada umas das atividades (pele, esterco, carne, sêmen, matrizes) até a sua comercialização para que a partir dessas informações seja possível a inclusão dos custos de produção de cada segmento e no final realizar o balancete de toda a atividade.
            A necessidade de alimentos práticos e funcionais com características definidas tornam os produtos lácteos derivados de caprinos e ovinos um dos pré-requisitos do próximo milênio, sendo inserido no portfólio alimentar mundial. A distribuição do leite de cabra é heterogênea e os estudos da FAO (1995) demonstram crescimento no consumo destes produtos mundialmente, principalmente aqueles oriundos da África e da Ásia que representam cerca de 70% da produção mundial, enquanto que a América do Sul produz apenas 1,28% dessa produção.
             A caprinocultura leiteira está bastante avançada em países como França, Canadá, Espanha e Suíça Inglaterra e Itália, em países da Europa, especialmente na França, Espanha, Suíça, Inglaterra e Itália, que apresenta um consumo de 6,5 litros de leite por habitante ano, porém 75% desse total produzido destinava-se a produção de queijos. Países mais desenvolvidos da Europa os produtos lácteos se concentra principalmente para a produção de queijos e nos países como Canadá e África do sul concentra-se na produção de leite em pó, esse fato por sua vez indica que há um fluxo de produtos lácteos dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento. Esse fato proporciona aos governos a adoção de políticas públicas que visem o desenvolvimento do mercado interno dos produtos de origem caprina e ovina que apresenta um grande potencial (CARVALHO, 2014).
            Conclusão
            A ovinocaprinocultura no Brasil possui um bom potencial de crescimento e pode tornar-se uma atividade econômica importante principalmente na região nordeste do país, porém há a necessidade de valorização da atividade pelos criadores e discussão de políticas públicas para auxiliar no desenvolvimento de tecnologias e investimento na atividade.
Referências:                                                                                                               
CARVALHO, B, R. Potencialidades dos mercados para os produtos derivados de caprinos e ovinos. CAPRITEC Disponível em <http://www.capritec.com.br/> Acesso em: 05 Dez de 2014.
MARTINS, C. E. Custos de produção de ovinos e caprinos. Página Rural, 2011. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/48472/1/Midia-Custos-de-producao.pdf.pdf> Acesso: 05 Dez 2014.
NETO, S. M. J.; JÚNIOR, H. V. E.; CAMPOS, T, R.; FRANÇA, C. M. F. Estudo da Viabilidade Econômica da Produção de Carne Ovina na Região dos Inhamuns  Cearense: um estudo de  caso. Embrapa Caprinos Sobral, CE, 2007.
GOULART, F. D.; FAVERO, A. L.; ALVES, S. R. LIMA, S. A. T.; MARIA, V.; FILHO, C. B. A cadeia produtiva da ovinocaprinocultura nas regiões central e oeste do estado do rio grande do norte: estrutura, gargalos e vantagens competitivas. Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,
OTTO, C.; S, J.  L.; WOEHL, A. H.; CASTRO, J. A. Estudo econômico da terminação de cordeiros a pasto  e  em  confinamento. Revista do Setor de Ciências Agrárias, v.6,  n.  1/2,  p. 223-227, 1997.
RIBEIRO, S. D. A. Produção e comercialização de leite de cabra e derivados. In: Simpósio Nordestino sobre caprinos e ovinos deslanados, Associação Paraibana dos Criadores de Caprinos e Ovinos Anais.Taperoá:, 1992. 33-52
SEBRAE/RN. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agro-industrial da Caprinovinocultura do Rio Grande do Norte, v. 3, Natal, 2001. 146p

ZAPATA, J. F. F. Tecnologia e comercialização de carne ovina. In: Semana da caprinocultura tropical brasileira, 1, 1994: Sobral. Anais. Sobral: EMBRAPA – CNPC, 1994. p. 115-128.

domingo, 18 de janeiro de 2015

RESUMO AGENTES ANESTÉSICOS UTILIZADOS NA CASTRAÇÃO

         Com o aumento da população animal e a conscientização sobre a necessidade do controle de natalidade em animais domésticos, a castração, é um procedimento justificável e humanitário. Nas fêmeas a ovariosalpingohisterectomia (OSH) é uma técnica cirúrgica amplamente difundida na medicina veterinária, que tem como objetivo remover ovários, tubas, cornos uterinos e útero, para evitar o estro e, também, a gestação indesejada (Beck etal. 2004, Fossum 2008). É um procedimento indicado na prevenção de neoplasias, cistos ovarianos entre outras patologias. Além disso, é empregado no tratamento de piometra, metrite, traumatismo e/ou torção uterina, prolapso uterino e vaginal (Oliveira et al. 2003, Fossum 2008, Araujo et al. 2009). Nos machos o procedimento cirúrgico para a remoção dos testículos dos cães e denominada de orquiectomia, serve para evitar a reprodução e disseminação de doenças, sendo considerado a melhor maneira para evitar a proliferação de animais de rua. Para que uma cirurgia ocorra é necessário a utilização de medicação adequada para a adequada analgesia e anestesia do paciente. A anestesia geral permite a realização de atos cirúrgicos sem dor ou movimentação do paciente (FANTONI,2002). A medicação pré-anestésica (MPA) é o ato que antecede a anestesia, preparando o animal para o sono artificial, dando lhe devido sedação.
Acepram. 
         A acepromazina é o fenotiazínico mais amplamente utilizado em medicina veterinária como pré-anestésico. A medicação pré-anestésica é todo agente que é administrado antes da indução anestésica ou da anestesia propriamente dita com a finalidade de aumentar a segurança do ato anestésico, promover narcose, sedação, tranquilização e que suprimam as reações indesejáveis causadas pelos anestésicos.
Mecanismo de ação: Antagonista competitivo com o neurotransmissor DOPA e nos receptores dopaminérgicos, promovendo alterações neurológicas, os fenotiazínicos exercem efeito sedativo e miorrelaxante por bloquearem a neurotransmissão de serotonina e dopamina no sistema nervoso central e causando os seguintes efeitos:
·       Aumento do ácido homovalínico (efeitos extrapiramidais)
·       Diminuir o limiar de excitabilidade das células nervosas
·       Bloqueio periférico nos receptores α1 adrenérgicos
·       Hipotensão
·       Depressão do miocárdio (inotropismo negativo)
·       Hipoventilação
Metabolização É metabolizada no fígado e seus metabólitos excretados na urina.
 
        Xilazina
Os fármacos agonistas alfa-adrenérgicos foram sintetizados no inicio da década de 60, apresentando propriedades analgésica, sedativa, ansiolítica e simpatolítica. O uso destes fármacos em medicina veterinária é devido a facilidade de administração, baixo custo e efeitos sedativos, analgésicos e miorrelaxantes.
Mecanismo de ação
Baseado na interação com os receptores adrenérgicos alfa-2 no sistema nervoso central, determinando o relaxamento muscular, outro efeito é a diminuição da atividade simpática do SNC, e a redução dos níveis de catecolaminas circulantes. A xilazina quando aplicada por via intravenosa possui meia-vida de cerca de 30 minutos no cão, com recuperação completa dos animais entre 120 a 180 minutos, é um fármaco de rápida indução e analgesia, apresentando efeitos indesejáveis como:
·       Hipotensão;
·       Bradicardia;
·       Vasoconstrição periférica com aumento transitório da pressão arterial;
·       Diminuição do tônus simpático, frequência cardíaca e pressão arterial;
·       Cães: diminuição do débito cardíaco, sem promover alterações significativas no volume sistólico do ventrículo esquerdo, mantendo a irrigação e o fluxo sanguíneo do coração e outros órgãos vitais;
·       Bloqueio atrioventricular desencadeado por um aumento compensatório no tônus vagal;
·       Aumento do intervalo PR – diminuição da condução do impulso atrial ao nodo atrioventricular;
Metabolização A xilazina pode ser usada rotineiramente, sem efeitos cumulativos e com recuperação completa em 2 a 3 horas seguintes à administração IV e de 3 a 5 horas seguintes à administração IM e SC. Depois de sua absorção, o fármaco é biotransformado pela via hepática e eliminado via renal em processo relativamente rápido.
         Cetamina
         A cetamina surgiu em 1963, em substituição à fenciclidina, com o objetivo de produzir menor intensidade das reações adversas, é solúvel em água e aproximadamente cinco a dez vezes mais lipossolúvel que o tiopental, sendo rapidamente absorvida após administração. Comercialmente encontrada nas concentrações de 50 (5%) e 100 (10%) mg/ ml.
O período de latência da cetamina depende da via de administração, produzindo efeitos entre 0,5 e 5 minutos. Sua anestesia é caracterizada por uma curta duração, assim como curto período de recuperação e mínimos efeitos psicomiméticos indesejáveis e cardiorrespiratórios leves. Possui ampla janela terapêutica (5-10 mg/ kg, via intravenosa ou intramuscular).
Mecanismo de ação
Induz a anestesia por meio de bloqueio dos estímulos no tálamo e estimulação das áreas límbicas. A cetamina também bloqueia os receptores muscarínicos dos neurônios centrais e pode potencializar os efeitos inibitórios do ácido gama-amino-butírico (GABA) e bloqueia o processo de transporte neuronal da serotonina, dopamina e noradrenalina, potencializando seus efeitos por bloquearem a receptação de neurotransmissores. A cetamina é um potente vasodilatador cerebral, capaz de aumentar o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão intracraniana. Pode promover melhor analgesia para dor somática, bloqueando/ deprimindo/ interagindo e organizando algumas áreas (área reticular espinhal, núcleo da formação reticular medular medial, lâmina da medula espinhal, receptores opióides do SNC, medula espinhal, e receptores NMDA). Apresenta efeito excitatório no sistema nervoso central.
Metabolização
         A cetamina é biotransformada pelas enzimas microssomais hepáticas, e seus produtos são conjugados em derivados glicurônicos e excretados pela urina. A coadministração de outras substâncias biotransformadas no fígado poderá estender a meia-vida da cetamina, por competição com enzimas hepáticas. Por isso a associação com benzodiazepínicos ou barbitúricos prolonga o tempo de recuperação em torno de 30%.
         Tiopental
         O tiopental é um barbitúrico de ação rápida, depressor do sistema nervoso central, utilizado principalmente em anestesia e hipnose. Todos os barbitúricos apresentam o fenômeno denominado ‘efeito cumulativo’, que é o retardamento da recuperação anestésica envolvendo todas as características indesejáveis: hipotermina, bradicardia e excitação, pela administração de doses repetidas. São altamente lipossolúveis, sendo rapidamente captados por todos os tecidos, produzindo início rápido e duração de ação ultracurta.
Mecanismo de ação: Potencializa a ação do Gaba, reduz a condutância de íons Na+, K+, CA++, reduz a ligação a seletividade da acetilcolina promovendo:
·       Depressão do  SNC (córtex e tálamo)
·       Anticonvulsivante
·       Depressão do centro termorregulador
·       Redução de consumo de O2 cerebral, fluxo sanguíneo cerebral e pressão intracraniana
·       Reduz o débito cardíaco (inotropismo negativo)
·       Hipotensão
·       Depressão do centro bulbar
·       Bradpneia
·       Redução do peristaltismo, secreções e tônus.
·       Hipotensão e vasoconstrição renal
·       Midríase seguida de miose e redução da PIO.
Metabolização: É biotransformado pelo sistema microssomal hepático, por dissulfuração e oxidação, a biotransformação é comprometida por fármacos inibidores como o cloranfenicol (causa a inibição enzimática microssomal, desencadeando assim um maior período de ação dos barbitúricos). Excreção é renal.

Referências:
SULIANE, B. S. Utilização da técnica de orquiectomia pré-escrotal fechada em cães (Canis familiares): Relato de Caso, Manaus 2011.
FREITAS, S. H.; DÓRIA, S. G. R.; LASKOSKI, G. B. H. MENDONÇA, S.F.; PIRES, M. A. M. CAMARGO, M. L. Aderência intra-abdominal após ovariosalpingohisterectomia em cadela -relato de caso Rev. Bras. Med. Vet., 34(3):213-222, jul/set 2012

RODRIGUES, M. C.; et al. A comparison between the technique ofuterine traction by vaginal via associated to flank celiotomy with the ventral median approach, RPCV (2012) 107 (583-584) 165-172