Neonatologia é o ramo da medicina veterinária que trata dos distúrbios do
animal recém-nascido. O neonato possui um organismo em pleno desenvolvimento, com o
resultado da maturação de diversos órgãos e sistemas, da adaptação da vida extra
uterina. É considerado considerado neonato até 4 semanas de vida.
Neonatos |
O parto normal ocorre através de forças
expulsivas, através de contrações do miométrio e
dos músculos abdominais. Essas forças devem ser suficientes para fazer com que o
feto e as membranas fetais se disponham normal e corretamente até transpor pelo canal de parto.
Em fêmeas primíparas o desenvolvimento mamário é precoce com 3 a 4 semanas de
gestação. Ocorre também, aumento da vulva, secreção vaginal de coloração clara, relaxamento
dos ligamentos pélvicos e da musculatura abdominal, a temperatura da fêmea cai um grau 24 horas antes do parto.
O parto é dividido em estágios:
Estágio 1. A fêmea fica inquieta, ofegante, tremendo e fazendo ninhos, ocorre o
relaxamento vaginal e dilatação da cérvix.
Estágio 2. Saída
do feto, elimina-se líquidos fetais, estiramento abdominal visível e retorno da
temperatura a níveis normais. O intervalo de nascimento entre cada filhote deve ser em torno de 5 a 60
minutos.
Estágio 3. Expulsão da placenta, encurtamento dos cornos
uterinos, fêmea remove as membranas amnióticas e higieniza o neonato, corta o
cordão umbilical e ingere a placenta.
Os filhotes apresenta um reflexo que necessita se desenvolver denominado de Termotropismo positivo, que significa dirigir-se a fonte de
calor. Esse reflexo é essencial para que o filhote consiga chegar na mãe para
mamar e se aquecer com seus irmãos.
Reflexo de sucção do neonato |
A necessidade calórica de um
filhote são quatro vezes maiores que de um animal adulto.
Um filhote
sadio só alimenta de leite materno e dorme nas duas primeiras semanas de vida. Seu intervalo de mamar deve ser a cada 2 ou 3 horas. É de extrema importância que que o filhote mame logo após o seu nascimento, para que este receba glicose e anticorpos. O leite materno fornece 95% das imunoglobulinas do
filhote. Essas globulinas são absorvidas principalmente nas primeiras 24 horas de
vida.
Substituto do leite materno para filhotes de cães e gatos (sucedâneo) |
A temperatura corpórea normal para recém-nascidos em torno de 35 a 35,5ºC e após uma ou duas
semanas essa temperatura aumenta gradativamente até 37,5 graus.
A temperatura varia com o
ambiente, e em até 10 dias não fazem piloereção e não conseguem
tremer, seu controle térmico só se torna eficaz após 4 semanas de vida os
olhos só se abre em torno de 12 a 14 dias após o seu nascimento. Os olhos costumam mudar
de cor entre a quarta e a sexta semana de vida, passando da cor
cinza-azulada para cor adulta.
Os canais auditivos só se abrem em torno de 12 a 14
dias e não estão completamente aberto até a quinta semana de vida. Os estímulos
visuais e auditivos começam a gerar uma resposta aos 25 dias de vida ou seja, os
reflexos vivido por um filhote, são reflexos de Termotropismo positivo, reflexo de
estimulação do focinho, reflexo de sucção, reflexo ano-genital ou
perineal.
Os pares de nervos cranianos trigêmeo e facial, glossofaríngeo, vago e hipoglosso, inervam a sucção e a deglutição. Até
a primeira semana de vida os neonatos permanecem em um sono paradoxal, inquieto, com tremores e ocasionalmente vocalização. A partir da segunda semana de
vida o sono já é mais tranquilo os latidos surgem a partir da décima semana de
vida.
Evolução dos sistemas orgânicos dos neonatos
Renal:
A micção se
inicia ao nascimento, mas a nefrogênese não está completa até a terceira semana
de vida. Os filhotes têm a capacidade limitada de excretar drogas o que aumenta
a sua suscetibilidade a toxicidade dos fármacos. Os rins só terminam de se
formar em torno da sexta até a oitava semana de vida e enquanto isso a sua urina apresenta maior quantidade de proteína, glicose e aminoácidos. A glicosúria temporária diz respeito a menor porção de néfrons
imaturos e a reabsorção tubular ineficiente de glicose até os 14
dias.
Esses filhotes possuem capacidade baixa de concentrar urina, e capacidade reduzida de eliminar o sódio em excesso. A sua função glomerular e tubular renal não está completamente estabelecida e madura, por isso estão mais
predispostos a desidratação, tendo como resultado uma maior exigência hídrica por apresentar capacidade reduzida de concentrar a urina.
Hepático:
O fígado possui capacidade reduzida para
gliconeogênese, glicogenólise e metabolização dos ácidos biliares e outros
processos de biotransformação, detoxificação e eliminação. O fígado só está completamente maduro após 5 meses de idade. Rins e fígado
imaturo nos neonatos são diferentes de animais adultos em relação ao metabolismo e excreção dos
fármacos e também se diferem na termorregulação, função cardiopulmonar, gastrointestinal, imunológica.
Esquema do controle da glicemia pelo fígado em neonatos |
Cardiopulmonar:
Os barorreceptores
são funcionais no quarto dia de vida, porém, a frequência cardíaca varia em
resposta as mudanças de pressão sanguínea. O filhote apresenta menor pressão
sanguínea, volume sistólico, resistência vascular periférica e a contratilidade
miocárdica é menor e por isso possui habilidade limitada para compensar
sobrecargas estresse circulatórios.
Sistema nervoso:
A mielinização ocorre até a sexta semana de vida e o diâmetro axonal dos nervos
periféricos também aumenta nas primeiras semanas. Possuem uma barreira hematoencefálica
imatura que é permeável ao ácido lático e que pode ser utilizado como
combustível metabólico cerebral no caso de uma hipoglicemia.
Gastrointestinal:
É estéril ao nascimento e nos três primeiros dias de vida inicia-se a colonização
intestinal pela flora bacteriana que deve se estabelecer até a quarta ou quinta semana de
vida.
Função imune:
A imunidade
materna advinda do colostro confere proteção ao neonato durante o período crítico
em que o sistema imunológico está em desenvolvimento. O animal deve ingerir o
colostro o quanto antes preferivelmente nas primeiras 24 horas. Os principais anticorpos do leite são IgG e IgA.
O sistema imunológico ativo começa a
funcionar a partir da quarta semana de vida com a produção de
anticorpos.
Os parâmetros fisiológicos do neonato são 210
a 220 batimentos por minuto e o movimento respiratório em torno de 15 a 35
movimentos por minuto nos primeiros dias de vida.
O filhote apresenta uma anemia
que pode ser considerada fisiológica nas duas primeiras semanas que são as mais
críticas, pois, quase todas as mortes acontecem neste intervalo de
tempo, mas, principalmente nos três primeiros dias de vida.
Enfermidades
neonatais:
São consideradas enfermidades neonatais quando surgem até
os 15 dias de vida, depois deste período são considerados enfermidades
pediátricas. Os sinais clínicos nos neonatos evoluem
rapidamente.
Hipóxia: Apesar do ritmo respiratório elevado a
capacidade de ventilação e o volume corrente é menor, assim que ocorre
deiscência da placenta aumenta o CO2 nos vasos
umbilicais, isso desencadeia o reflexo respiratório, porém, se o
filhote demorar a ser expulso ou caso venha apresentar esse estímulo respiratório antes de sair do meio amniótico ocorrerá aspiração do conteúdo e sufocamento do neonato.
Na primeira inspiração é liberado o surfactante pulmonar
que impede o colapso pulmonar, quanto mais prematuro é o filhote, menor a quantidade de surfactante que ele possui, por isso a alta mortalidade
nos casos em que os animais nascem de forma prematura, os sintomas são cianose e
polipneia.
O tratamento é a limpeza das vias aéreas e desobstrução e
estimulação manual da respiração uma ou duas gotas de doxapram na língua do
animal afim de estimular a respiração.
Fenda palatina:
Trata-se de algo
hereditário, mas doenças nutricionais estresse exposição a determinadas drogas e
interferência mecânica, podem ser fatores prováveis. A fenda palatina é chamada também de Palatosquise é um defeito da função longitudinal que afeta o osso
e a mucosa do palato duro.
Existe
uma predisposição nos braquicefálicos, a deficiência de ácido fólico e outros
fatores externos também podem provocar a fenda palatina, assim como fatores
hormonais, utilização de corticóides, doenças infecciosas e
tóxicos.
Os sintomas são crescimento insatisfatório do neonato, saída de leite
pelas narinas, espirros, tosses, esforços para vomitar, dificuldade respiratória, pode ocorrer pneumonia por aspiração, assim como rinite bacteriana.
O tratamento é colocar uma sonda até que o animal tenha a idade para ser operado. Aos 45 dias de idade a utilização da sonda nasoesofágica é o ideal, pois, normalmente a fenda palatina se fecha após 14 dias de idade. Esses
animais não devem ser usados na reprodução.
Hipotermia
O recém-nascido tem
limitações em sua habilidade de produzir calor endógeno e prevenir a sua perda de calor. O neonato possui uma grande área corporal em relação ao seu
peso, possui pouco tecido subcutâneo, os mecanismos gliconeogênicos são imaturos, assim como os mecanismos termorreguladores o ambiente exterior
influencia gravemente na temperatura do animal, assim como o
número de filhote da ninhada, quanto menos filhotes menor o aquecimento entre
eles.
Como dito anteriormente os neonatos não fazem a piloereção e não possui o reflexo de tremer até o sexto dia de vida, fato que que proporciona a perda de calor destes filhotes.
Fisiologia da
hipotermia:
Quando a temperatura interior do corpo e os processos metabólicos diminuem e o sangue é desviado das
superfícies e extremidades pela vasoconstrição para os órgãos centrais, a frequência e o débito
cardíaco diminui e o mesmo acontece com a perfusão renal. As funções
neurológicas diminui, assim como a velocidade mental, ocorre então a fibrilação
ventricular.
Sintomatologia da hipotermia é observada a partir da diminuição da função
gastrointestinal, aumento na frequência
respiratória superficial, diminuição da frequência
cardíaca estando entre 40 a 50 batimentos cardíacos por minuto, acidose metabólica devido a hipóxia tecidual.
Prevenção:
Ao nascimento o neonato deve ser
logo seco, aquecido e colocado perto da mãe e dos irmãos. Deve
haver o contato de pele com a mãe, aplicação de óleo mineral na região
dorsal afim de evitar perda de água. As fêmeas não não devem parir ou amamentar em
ambientes externos e a temperatura ambiente deve ser em torno de 29 a 32 graus
nos primeiros dia.
Desidratação:
Os filhotes são
predispostos a desidratação, pois, o fluido extra-celular está aumentado e é maior que o
intracelular. Ainda a capacidade renal para conservar e reabsorver a água está diminuída. Outro fator importante é a área de
superfície extensa em relação ao peso do filhote e exposição ao ambiente frio é as principais causas.
Resumindo, existem dois fatores que é intrínseco ao neonato que o predispõem a desidratação.
Primeiro: Alta relação superfície e
peso corporal predispõe a troca de calor com o ambiente e perda de água.
Segundo: Imaturidade renal, em torno da segunda e
terceira semana de vida a filtração glomerular não é eficiente e sua função é funcional em
20 a 50% quando comparadas com animais adultos, possui uma má reabsorção tubular, além disso os neonatos devem ficar em um ambiente com umidade razoável em
torno de 50 a 65 por cento dois ambientes muito secos provocam
a desidratação.
Diagnóstico:
O filhote desidratado
deixa de mamar, chora, perde sua vitalidade, esfria e é rejeitado pela mãe, perde
peso e a prega cutânea persiste ao ser esticada. Além disso, apresenta mucosas
pálidas ou seja hipocorada e o focinho seco.
O tratamento desses animais
consiste na reidratação através da fluidoterapia e ingestão de
água com açúcar ou glicose a 50%.
Hipoglicemia:
O fígado tem
capacidade reduzida para gliconeogênese, quando há uma baixa nos níveis de
glicemia, nota-se uma mobilização de glicogênio e gordura, porém, o recém
nascido possui estoque ineficiente de gordura e aminoácidos em relação à sua massa
corporal, além disso, eles possuem menores quantidades de precursores de
glicogênio e maiores necessidades de glicose. O neonato é
mais susceptível a hipoglicemia, pela perda de glicose através da urina devido seu sistema renal ser imaturo.
Esquema do controle da glicemia realizada pelo fígado em nonatos |
Uma nutrição materna inadequada, infecções
bacterianas, virais e parasitárias também contribuem para uma
hipoglicemia. Os animais acometidos apresentam depressão, hipotermia, convulsões, síncope, polifagia, além de desidratação, redução da atividade e
incapacidade de mamar.
O tratamento está em administrar a glicose em torno
de 5 a 10%. Pode ser dado açúcar por via oral, leite condensado ou sucedâneo.
Septicemia Neonatal
É uma síndrome clínica caracterizada por sinais sistêmicos de infecção e acompanhada
por bacteremia. Os sinais clínicos são febre, hipotermia, apneia, bradicardia. Os animais morrem repentinamente e associa-se as
complicações como obstruções pré-natais ou intraparto pode ser de causa
ambiental.
Fisiopatologia:
Os microorganismos colonizam a pele e a mucosa e o coto umbilical é porta de entrada para
infecção sistêmica. Após a multiplicação dos microrganismos, ocorre invasão em outros órgãos e sistemas e instalando-se a sepse.
Os fatores de risco é o sistema de defesa do animal imaturo, canal
do parto e ambiente hospitalar contaminado, tempo de parto prolongado, distocias e stress, perda de peso ao nascer, hipotermia, além do uso de ampicilina que suprime a flora normal bacteriana, deficiência de transmissão da imunidade passiva.
Sinais clínicos:
Diminuição do ganho
de peso, ausência do reflexo de sucção, recusa alimentar, desconforto respiratório, letargia, febre ou hipotermia, vômito, diarreia, petéquias na pele e abcessos.
Tratamento
Feito com cefalosporinas de terceira geração que é de amplo espectro que produz
alteração mínima da flora intestinal normal, os mais utilizados e com maior
sucesso é o Ceftiofur sódico com dose de 2,5mg/kg a cada
12 por via subcutânea durante 5 dias no máximo.
Não deve ser utilizado nesses
animais a gentamicina, por provocar nefrotoxicidade, cloranfenicol por comprometimento cardiovascular as Tetraciclinas, pois, provoca a
inibição do crescimento e deformidades esqueléticas em animais em crescimento, a fluoroquinolonas, pois, provocam lesões nas cartilagens dos Ossos longos.
A prevenção é basicamente
através do tratamento do umbigo dos neonatos com tintura de iodo logo após o
seu nascimento.
Diarreia:
Aumento na água fecal que se
manifesta clinicamente como um aumento na frequência e o volume dos movimentos
intestinais sob circunstâncias normais, embora absorção e secreção ocorra
simultaneamente no intestino, os processos de absorção predominam grandemente
aproximadamente 95% do líquido produzido no trato gastrintestinal é
absorvido.
Diarreia de origem do Intestino Delgado ocorre porque o volume
de líquido apresentado ao cólon é demasiadamente grandes e excede a capacidade
de reserva de absorção do colo.
Diarreia de origem do Intestino Grosso ocorre porque a capacidade de absorção do cólon está diminuída e o
volume normal de água apresentado não é absorvido.
Mecanismos da diarreia: Na
diarreia os processos de secreção estão aumentados, os mecanismos são aumento da
osmolaridade, hipersecreção, permeabilidade aumentada, alterações na
motilidade, esses mecanismos dão origem a diferentes tipos de diarreia.
Diarreia osmótica: Excesso de
componentes hidrossolúveis no lúmen retendo água pode ocorrer por sobrecarga
alimentar e insuficiência pancreática deficiência de sais biliares afecções da
mucosa do intestino delgado.
Diarreia secretória: Quantidades anormais de líquido extra-celular são secretados para o lúmen, isso pode ocorrer
devido a alguma enterotoxina produzida pela multiplicação anormal da flora
bacteriana, principalmente aquelas de características patogênicas.
Achados:
A quantidade de fezes
aumentada, estado nutricional ruim, vômito, polidipsia, pode caracterizar uma diarreia do intestino delgado.
Tenesmo, disquesia, estado nutricional normal, fezes pastosas, podem caracterizar como a diarreia de intestino grosso.
O tratamento baseia-se na reposição hidroeletrolítica desses animais e também a
utilização de antibióticos e antidiarreicos (exceção quando apresentam
causas infecciosas).
Principais vias de administração realizadas em filhotes de cães e gatos |