segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

BRUCELOSE CANINA



1.      Brucelose Canina
CONCEITUAÇÃO:
a) Características da doença;
A brucelose canina é uma doença bacteriana causada pela Brucella canis, um cocobacilo gram negativo aeróbico. Este agente causa uma bacteremia de extensa duração, desenvolvendo algumas alterações reprodutivas. A mais freqüente manifestação da doença nas fêmeas é a falha reprodutiva ou o aborto entre o 45°-55° dias de gestação. No macho, está associada à epididimite, dermatite do escroto, atrofia testicular e infertilidade.
b) distribuição geográfica e prevalência;
A infecção de cães por Brucella canis tem sido encontrada em praticamente todos os países. A prevalência é variável segundo a região e o método diagnóstico empregado. Alguns levantamentos sorológicos revelaram percentuais de 1 a 6% de prevalência nos Estados Unidos, 25% no Peru e 11,8% em cães de rua do México. Na região do planalto catarinense, Brasil, foi encontrada prevalência de 6% de cães soropositivos na zona urbana e 3% na zona rural, em levantamento soro-epidemiológico na cidade de Campinas, Brasil, detectou 5,4% de cães infectados. No município de Pelotas, Brasil, verificaram 22,7% de prevalência entre caninos e 7,1% entre humanos. Na espécie humana, os registros demonstram que a maioria dos casos de infecção estão associados à laboratoristas e à indivíduos que trabalham em canis.
c) importância e conseqüências econômicas e sociais.
Provoca distúrbios reprodutivos em cães, podendo ser transmitida ao homem. Além de ocasionar perdas econômicas aos criadores de cães domiciliados e de canis, em decorrência do comprometimento dos órgãos reprodutivos.
ETIOLOGIA:
a) Características morfológicas do agente, resistência (ambiente e desinfetantes),
O gênero Brucella é constituído por bactérias intracelulares facultativas, com seis espécies reconhecidas, cada uma acomete um hospedeiro preferencial, sendo assim, identificadas conforme seu hospedeiro, características morfológicas, propriedades metabólicas, sorotipagem e fenotipagem. A B. canis causa uma enfermidade infecto-contagiosa crônica, reconhecida como pequeno (1,0 - 1,5 μm) cocobacilo, Gram negativo, aeróbico, imóvel, não esporulado e não encapsulado, que se distingue de outros do gênero Brucella, por apresentar colônias com morfologia rugosa e aspecto mucóide, e características bioquímicas próprias. As espécies do gênero Brucella são bastante sensíveis aos desinfetantes comuns, à luz e a dessecação. Em cadáveres ou tecidos contaminados enterrados, podem resistir vivas por um a dois meses em clima frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em regiões quentes, um a dois meses em clima frio, mas morrem em 24 horas no verão ou em regiões quentes.
b) ciclo evolutivo ou biológico.
Após a entrada no hospedeiro, a Brucella canis é fagocitada por macrófagos e outras células fagocitárias, ela resiste às enzimas produzidas pelos fagócitos e é transportada para os linfonodos regionais, podendo causar linfadenopatia periférica, a partir dos linfonodos regionais, os microrganismos disseminam-se por via hematógena e podem localizar-se no fígado, baço e no trato reprodutivo.
HOSPEDEIRO:
a) Suscetibilidade em função das características peculiares de espécie e diferentes grupos de indivíduos.
A brucelose canina é uma enfermidade contagiosa crônica que acomete os cães, os canídeos silvestres e o homem. A prevalência de infecção é maior em áreas economicamente carentes. Áreas fechadas de confinamento, como canis, aumentam a probabilidade de transmissão de infecções.
PATOGENIA:
a) Porta de entrada principal;- Destino seguido pelo agente desde a porta de entrada até o(s) ou tecido(s) de eleição;
Nos cães, as principais portas de entrada da bactéria compreendem principalmente as mucosas oronasal, genital e conjuntival. Infecções experimentais já foram induzidas pelas vias intravenosa, subcutânea, intraperitoneal e intravaginal. Após a penetração no organismo, o agente é fagocitado por macrófagos ou outras células fagocitárias, transportado para órgãos genitais e linfonodos, desenvolvendo linfadenopatia transitória e no interior dos leucócitos realiza bacteremia. Durante a fase de bacteremia ocorre disseminação bacteriana por todo o organismo do hospedeiro, mas preferencialmente para tecidos ricos em esteróides gonadais e em células reticuloendoteliais como baço, fígado, linfonodos, medula óssea, útero de fêmeas gestantes, próstata, epidídimos e testículos. Outros sítios de localização são os rins, circulação dos discos intervertebrais, meninges e câmara anterior dos olhos. Uma vez cessada a bacteremia, esses tecidos podem constituir sítios de persistência bacteriana, caracterizando a fase crônica da infecção. Após a bacteremia, títulos de anticorpos persistentes e não protetores contra B. canis começam a ser detectados e a resposta imune é predominantemente celular. Entretanto, parecem ter pouca influência sobre a bacteremia e o número de microrganismos encontrados nos tecidos.
b) Tempo necessário para que o agente, uma vez no organismo do hospedeiro, desenvolva sua ação (período de incubação);
Após uma a quatro semanas da infecção, o agente já pode ser isolado na hemocultura, persistindo por no mínimo seis meses e de forma intermitente pode durar até 64 meses ou mais. Porém, em animais cronicamente infectados a bacteremia pode estar ausente impossibilitando o isolamento.
c) Alterações estruturais que imprime aos órgãos ou tecidos de eleição (Lesões);
d) Alterações fisiológicas, que determinam no organismo afetado, decorrentes de funções bloqueadas (Sinais e Sintomas);
A presença do agente no organismo causa principalmente alterações reprodutivas como infertilidade, abortamentos, principalmente no terço final da gestação e a ocorrência de natimortos ou do nascimento de filhotes débeis. Ocasionalmente afeta outros tecidos causando alterações como uveíte, discoespondilite, osteomielite e dermatite. Em sua maioria, as infecções por B. canis são inaparentes. Infecta o útero nas fêmeas prenhes e coloniza as células epiteliais placentárias, resultando em morte embrionária ou fetal, abortamentos tardios no terço final da gestação, podendo ocorrer retenção de placenta e/ou corrimento vaginal persistente. Algumas fêmeas podem apresentar vários abortamentos consecutivos. Em alguns casos, podem levar a gestação a termo com nascimento de natimortos, filhotes fracos que morrem em poucos dias, ou filhotes aparentemente sadios, exceto pela bacteremia persistente e o enfartamento de linfonodos, que geralmente é o único sinal clínico da infecção até a maturidade sexual. As cadelas infectadas não prenhes comumente não mostram sinais de infecção, mas podem eliminar o microrganismo na urina e secreções vaginais por período de tempo variável. As manifestações clínicas de brucelose mais frequentes nos machos, são as epididimites e prostatites severas. A epididimite desenvolve-se cerca de cinco semanas pós-infecção. Durante a fase aguda da doença, o testículo e o epidídimo aumentam de tamanho, e este último torna-se sensível devido à presença de fluido serosanguinolento na túnica albugínea. O epidídimo diminui de tamanho na fase crônica da infecção, apresentando consistência firme e geralmente há atrofia epididimária.
e) Evolução do quadro: duração e curso da doença (Prognóstico).
Danos testiculares desenvolvidos pela ação direta da bactéria, iniciam uma resposta auto-imune contra os espermatozóides e determinam distúrbios na espermatogênese, alterações da morfologia e redução na motilidade dos espermatozóides, presença de células inflamatórias e redução de volume do ejaculado. Acredita-se que este fenômeno auto-imune, esteja envolvido na patogenia da esterilidade, que geralmente ocorre nas infecções crônicas. Independentemente do desenvolvimento da esterilidade, os cães continuam excretando a bactéria no fluido seminal. Relata-se recuperação espontânea da infecção entre um e cinco anos pós-infecção. Animais que se recuperaram da infecção apresentam títulos aglutinantes baixos ou ausentes e podem apresentar-se imunes à re-infecção. Mesmo sendo uma doença sistêmica, raramente cães adultos manifestam sinais clínicos sistêmicos severos, sendo o principal problema à ocorrência de prejuízos no desempenho reprodutivo. A presença dos sinais clínicos é sugestiva da infecção, mas o único método definitivo para o diagnóstico da brucelose em cães é o isolamento bacteriano do agente que fornece diagnóstico definitivo quando a bactéria é isolada. Entretanto, é demorado, e resultados negativos na cultura, decorrentes de pequena quantidade de microorganismos viáveis ou contaminação da amostra, não eliminam a possibilidade de infecção.
DIAGNÓSTICO:
b) Clínico:- considerar os sintomas mais sugestivos do ponto de vista populacional;
O diagnóstico é sugerido pela história clínica, por anormalidades no sêmen e relativa ausência de anormalidades físicas. Todavia, o diagnóstico definitivo consiste no isolamento do microorganismo, caracterizando-se como método que consome muito tempo e por isso pouco prático como teste de rotina em animais assintomáticos. O sucesso do diagnóstico ainda depende da escolha do material a ser cultivado.
c) Laboratorial:- material de escolha; métodos recomendados
Diagnostico Direto: O microorganismo pode ser isolado a partir da cultura do sangue, aspirado de medula óssea, sêmen, secreção vaginal, urina, leite, humor aquoso, órgãos como o fígado, baço, linfonodos, útero, ovário, próstata, epidídimo, testículo ou ainda líquido amniótico, placenta, rins, fígado, baço, pulmão e fluidos pleurais de fetos abortados. O sangue é a melhor amostra a ser cultivada na tentativa de isolamento, uma vez que nos cães a bacteremia é prolongada. Após uma a quatro semanas da infecção, o agente já pode ser isolado na hemocultura, persistindo por no mínimo seis meses e de forma intermitente pode durar até 64 meses ou mais. Porém, em animais cronicamente infectados a bacteremia pode estar ausente impossibilitando o isolamento. A cultura da descarga vaginal no período imediatamente após o abortamento ou durante o estro é o mais indicado para tentativa de isolamento do agente nas cadelas. As culturas de urina e sêmen podem ser úteis para o diagnóstico, mas se colhidas isoladamente não são confiáveis, uma vez que um resultado negativo não exclui a possibilidade de infecção.
Anticorpos não protetores, produzidos contra antígenos da parede celular e do citoplasma da B. canis, podem ser detectados com oito a 12 semanas pós-infecção. Os títulos de anticorpos permanecem altos enquanto persiste a bacteremia. Quando a bacteremia torna-se intermitente, os títulos de anticorpos declinam e podem tornar-se duvidosos ou negativos, enquanto o microrganismo ainda persiste nos tecidos.
Diagnostico indireto: O sorodiagnóstico da brucelose canina pode ser realizado empregando-se as seguintes provas: soroaglutinação rápida (SAR), soroaglutinação lenta (SAL), imunodifusão em gel de ágar (IDGA) e ensaio imunoenzimático (ELISA). Pelas características de especificidade moderada da sorologia e da baixa sensibilidade do isolamento, nenhum deles é, sozinho, adequado para o diagnóstico de todos os casos de brucelose. Desta maneira é interessante associá-los e tentar descobrir em que fase da doença o animal se encontra, uma vez que em cada fase haverá maior probabilidade da bactéria ser isolada em determinada amostra.
TRATAMENTO: quando indicado.
Como a possibilidade de êxito com o tratamento é incerta e os animais se tornam uma fonte de infecção para outros cães e pessoa, o tratamento não é recomendado, pois os cães tratados estarão sempre susceptíveis a reinfecção, a brucelose ainda não tem cura, sendo assim o animal infectado permanece portador por toda a vida. Todavia, alguns medicamentos podem ser utilizados para minimizar os sintomas clínicos da doença e sendo utilizada de acordo com a fase da enfermidade em que o animal se encontra, e quanto mais tardia a doença for diagnosticada, mais difícil será o tratamento.
Tetraciclina (30 mg/kg), VO, duas vezes ao dia, durante 28 dias; Estreptomicina (20 mg/kg), IV, uma vez ao dia, durante 14 dias. Foram submetidos a esse tratamento 105 cães, desses 81 foram negativados; Tetraciclina (30 mg/kg), VO, três vezes ao dia, durante 30 dias; Estreptomicina (20 mg/kg), IM, nos dias 1 a 7 e 24 a 30. Foram submetidos a esse tratamento 19 cães, 14 foram negativados com um ciclo, 2 animais com dois ciclos e 3 cães foram refratários; Monociclina (10 mg/kg), duas vezes ao dia; Estreptomicina (4,5 mg/kg), IM, durante 7 dias consecutivos; Oxitetraciclina de longa ação (20 mg/kg), IM, uma vez por semana, durante um mês, associada a Estreptomicina (20 mg/kg), IM, uma vez ao dia, durante 1 semana. Dos 24 cães tratados 21 foram negativados. Nesse mesmo estudo, não foram obtidos sucessos com Ampicilina e observou-se bons resultados com 4 semanas de tratamento com enrofloxacina.
CADEIA DE TRANSMISSÃO:
a) fontes de infecção;
Entre os animais, a Brucella é geralmente transmitida pelo contato com a placenta, feto, fluidos fetais e descargas vaginais de animais infectados. Os animais são infectados após um abortamento ou parto completo. A bactéria pode ser encontrada no sangue, urina, leite ou sêmen; produzida no leite e sêmen, pode ter sua vida prolongada. A brucelose pode ser transmitida por fômites, e em condições de alta umidade, baixa temperatura e se luz solar, os microorganismos podem se tornar resistentes por muitos meses na água, fetos abortados, esterco, pêlos, fenos, equipamentos e roupas.
b) vias de eliminação;
A Brucella canis pode ficar alojada na próstata e epidídimo de machos infectados e ser eliminada intermitentemente no fluído seminal, mesmo após a bacteremia ter cessado. A eliminação pelo sêmen é decorrente da presença de microrganismos na próstata e no epidídimo. A quantidade de bactérias isoladas a partir do sêmen em cães infectados é alta nas primeiras seis a oito semanas pós-infecção. Entretanto, a eliminação intermitente do organismo em baixas concentrações, foi relatada por até 60 semanas pós-infecção, podendo continuar por até dois anos.
c) vias de transmissão; portas de entrada, suscetiveis.
Nos cães, as principais portas de entrada da bactéria compreendem principalmente as mucosas oronasal, genital e conjuntival. Infecções experimentais já foram induzidas pelas vias intravenosa, subcutânea, intraperitoneal e intravaginal. A infecção oral é a mais frequente e a dose mínima infectante por esta via é de cerca 106 microrganismos, enquanto a dose mínima infectante por via conjuntival é 104 a 105 microrganismos. A dose infectante mínima por via venérea é desconhecida. A transmissão ocorre no período de acasalamento ou como resultado do contato com tecido fetal abortado e descarga vaginal. Outras formas de transmissão são a congênita e por aerossóis. A B. canis pode ser transmitida pelo sêmen, principalmente durante as primeiras seis a oito semanas de infecção, pela urina, e também por fômites contaminados.
PREVENÇÃO:
a) Medidas relativas às fontes de infecção;
Para prevenção e controle dessa doença, deve-se testar todo o lote reprodutor quanto a Brucella antes de empreender um programa de acasalamento e, teoricamente, antes de cada acasalamento nas fêmeas e uma ou duas vezes por ano nos machos. Os animais positivos devem ser eliminados de canis de reprodução ou esterilizados.
b) Medidas relativas às vias de transmissão;
O controle da brucelose em canis infectados baseia-se nas seguintes medidas: identificação e remoção de todos os animais positivos do local, identificação das vias de transmissão, higienização das instalações, repetição mensal dos exames laboratoriais a fim de identificar todos os animais positivos e evitar que novos surtos venham ocorrer. Uma vez que a infecção é confirmada num plantel, todos os animais devem ser testados sorologicamente e bacteriologicamente, em intervalos mensais para identificação dos positivos. Com relação aos animais de companhia, devem-se ter outras condutas, como tratamento com antibioticoterapia e a esterilização, pois terminam com as secreções genitais e a eliminação do microorganismo por essa via, porem, não excluem a possibilidade de o animal permanecer como fonte de infecção para outros cães e até mesmo para pessoas de seu convívio.
c) Medidas gerais de controle e profilaxia.
A prevenção da infecção é particularmente importante nos canis comerciais, já que uma vez que a infecção é introduzida numa população canina confinada, sua disseminação ocorre rapidamente, acometendo diversos animais. Exames bacteriológicos e sorológicos rotineiros devem ser realizados a cada seis meses, assim como nos animais previamente ao acasalamento. Novos animais introduzidos no plantel devem antes ser submetidos aos exames clínicos e laboratoriais e então devem ser mantidos em quarentena durante oito a doze semanas, quando os testes laboratoriais forem repetidos. Os cães que apresentarem sinais clínicos sugestivos de brucelose não devem ser introduzidos no plantel. Todos os animais reprodutores devem ser regularmente testados para anticorpo B. canis, antes de empreender um programa de acasalamento e, teoricamente, antes de cada acasalamento nas fêmeas e uma ou duas vezes por ano nos machos. Em canis todos os animais positivos devem ser eliminados da reprodução. Um macho reprodutor não deve retornar ao serviço, mesmo após o tratamento com antibioticoterapia.

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